É enganoso o título utilizado por um site na publicação de uma matéria sobre a morte de pessoas que já foram vacinadas contra a Covid-19. A reportagem foi copiada do Portal Metrópoles, que utilizou a mesma matéria para dar outro foco utilizando um título totalmente diferente: “Mortos após imunização chegam a 19 mil. Entenda por que isso não reduz importância da vacinação”.
O texto traz, além dos dados, a fala de diversos especialistas, que explicam como funcionam as vacinas e porque as restrições sociais e sanitárias ainda são importantes para reduzir a circulação do novo coronavírus.
Uma análise dos comentários feitos sobre a matéria verificada, porém, mostra que boa parte dos leitores não acessou o conteúdo completo e compartilhou o link apenas com base no título — que induz a um questionamento da eficácia dos imunizantes contra a doença.
O texto original
O texto publicado pelo site Terra Brasil Notícias é uma cópia exata de parte de uma reportagem do portal Metrópoles, do dia 17 de setembro, assinada por Lucas Marchesini. O título original, porém, tem o tom inverso ao usado pelo Terra Brasil Notícias: “Mortos após imunização chegam a 19 mil. Entenda por que isso não reduz importância da vacinação”.
O original também é mais longo do que o publicado no site Terra Brasil Notícias, e traz informações sobre a faixa de idade das pessoas que, mesmo vacinadas, morreram devido à covid. Segundo a reportagem, a maioria das vítimas era idosa, com idade entre 61 e 97 anos.
O médico sanitarista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, ouvido na matéria, explica que a resposta do organismo às vacinas diminui nas pessoas mais velhas – o que torna necessária uma terceira dose.
Além disso, a reportagem aponta que o surgimento de novas cepas também pode comprometer a eficácia de imunizantes já disponíveis. “Conjugados com o avanço da vacinação, os protocolos sanitários garantem uma redução mais expressiva na circulação da doença, protegendo as pessoas com imunidade mais baixa e também diminuindo a probabilidade de surgimento de novas variantes”, diz o texto.
O texto do Terra Brasil Notícias também omite todos os links que estavam no texto original e que ajudam a dar mais contexto à reportagem publicada pelo Metrópoles.
Como impactou os leitores?
Embora o texto do site aponte elementos que demonstram a importância da vacinação contra a covid-19, o título induz muitos leitores a uma ideia equivocada sobre a imunização ao destacar o número de mortes após duas doses a uma “bomba”. Uma notícia bombástica, no meio jornalístico, é uma expressão que carrega em seu significado uma grande revelação ou denúncia.
E essa indução é fácil de ser constatada pelos inúmeros comentários que a matéria recebeu na publicação no Twitter, como o do usuário que escreveu: “E agora, quem é o responsável? Vacina sem eficácia usando o povo de cobaia”. Ou a internauta que marca outro perfil para chamar a atenção para a matéria: “Veja a quantidade de pessoas que já morreram após tomar as vacinas: 19 mil.” Tem ainda o perfil que pergunta: “Adiantou a vacina? E completa: “Ainda é permitido questionar ou a pergunta é absurda?”. Diante da matéria, um usuário conclui que os mortos de covid eram um alarde e que os mortos vacinados não têm importância. “Durma-se com esse barulho”, comenta.
Por que investigar?
Apesar de o conteúdo do texto ser verdadeiro, o tom alarmista do título induz o leitor a associar as 19,3 mil mortes como um efeito das vacinas contra a covid-19. Além disso, o site reproduz apenas parte da reportagem publicada originalmente pelo portal Metrópoles, omitindo o perfil dos mortos — idosos — e a análise dos especialistas.
O Comprova (projeto integrado por 33 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens) vem mostrando conteúdos enganosos e falsos sobre as vacinas, como a postagem sugerindo que a morte de uma adolescente de 16 anos, moradora de São Bernardo do Campo (SP), teria relação com a vacina da Pfizer. Ou a afirmação do médico americano Ryan Cole, de que as vacinas provocam aumento dos casos de câncer.
Com informações do UOL.