A “Missão Humanitária do Estado Maior das Forças Armadas”, registrada em Miami durante a pandemia, em 30 de outubro de 2020, conta com diretores bem conhecidos no cenário brasileiro. Um deles Jair Bolsonaro, que consta como presidente. Também aparecem no ato de abertura Hamilton Mourão (vice) e Roberto Cohen (secretário), este último é citado na CPI como parceiro do reverendo Amilton Gomes de Paula.
A entidade se apresenta como “uma organização diplomática, humanitária, com missão de paz, militar, organização intergovernamental e nonprofit”, segundo reportagem da Agência Sportlight. Teoricamente, instituições “nonprofit” não possuem fins lucrativos.
A Agência Sportlight tentou contato com a assessoria de comunicação da presidência, através de e-mail, para saber sobre a participação de Bolsonaro na organização aberta na Florida mas não foi respondida.
Os registros foram atualizados na junta da Florida no último dia 15 de março. O nome de Hamilton Mourão, que no primeiro documento aparece sem ‘H’, foi corrigido. Roberto Cohen passou a constar como “tenente coronel capelão”. Ainda foram acrescentados mais nomes: o de Fernando Azevedo e Silva, então ministro da Defesa, e o de Raul Botelho, que aparece como Tenente-Brigadeiro do ar e que, na época, ocupava o cargo de chefe do Estado-Maior do conjunto das Forças Armadas do Ministério da Defesa. Botelho foi exonerado no dia 20 de maio, indo para a reserva em 2 de junho.
O reverendo Amilton Gomes de Paula, em 8 de março, se apresentou como presidente de uma organização chamada “Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários” (Senah). Ele enviou uma carta para Herman Cardenas, da Davati, onde aparecia o logo da “American Diplomatic Mission of International Relations” (ADMIR), documento que foi obtido pela CPI na apreensão do celular do cabo Dominguetti.
Entre os diretores da “ADMIR” está Roberto Cohen, que consta como secretário da entidade aberta na Florida, ao lado de Jair Bolsonaro.
O filho de Donald Trump é o presidente da ADMIR e, em 2018, o próprio Trump virou presidente de honra da entidade.
Robert Cohen aparece ainda em registros como Zigmund Ziegler Roberto Cohen, tenente-coronel israelense e médico, com estreitas ligações com o Brasil e já tendo sido morador do país. Em seu nome aparecem outros registros de empresas “nonprofit” de missões humanitárias, religiosas ou militares e em algumas com sócios brasileiros, muitas delas abertas nesse ano.
Durante a audiência da CPI de terça-feira (3), o senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou que a “Missão Humanitária do Estado Maior das Forças Armadas do Brasil” aparece citada nos documentos do reverendo Amilton. Sem conhecer os registros encontrados pela Sportlight na junta comercial da Florida e a presença do nome do presidente entre os diretores, o parlamentar questionou a respeito da finalidade da entidade, a relação do reverendo com ela e com o governo brasileiro. O senador ainda perguntou se a organização pertencia ao comando militar ou as forças armadas brasileiras e pediu para que fosse confirmarda ou não as afirmativas. O reverendo respondeu “não ter conhecimento”.
Em outras três empresas em que Robert Cohen aparece nos registros da junta da Florida, entre elas a American Federal Credit Card and Investments Foundation, também inscrita como de “missão humanitária”, consta o nome de Aldebaran Luiz Holleben. Este último foi citado por constar como parceiro do reverendo e por reivindicar o título de “superman”, fato citado na CPI.
A reportagem da Sportlight encontrou também uma empresa de caráter supostamente humanitário aberta pelo reverendo Amilton com endereço em Boca Raton, na Florida, já após o início da CPI da Pandemia. A “Golden Angel Humanitary Foundation” foi aberta em 13 de maio de 2021. Como objeto da empresa aparece “ fornecer bens e serviços aos menos afortunados”.
Jair Bolsonaro, Reverendo Amilton foram contatados mas não responderam a reportagem.
Veja os documentos:
Agência Sportlight