Após a Anvisa aprovar a vacinação contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, deputados federais bolsonaristas intensificaram uma postura de combate à imunização e ao passaporte vacinal. A investida ocorre principalmente por meio de mensagens, convocações de atos ou mesmo informações falsas ou sem evidências científicas em grupos antivacina no aplicativo de troca de mensagens Telegram.
A discussão já saiu do ambiente virtual em ao menos 11 capitais brasileiras, com a realização de manifestações nos Legislativos – algumas com episódios de violência. Ativistas antivacina já provocaram uma tentativa de invasão à Assembleia do Rio (Alerj), troca de agressões na Câmara Municipal de Porto Alegre e dois casos em que vereadoras – uma também da capital gaúcha e outra em Campinas – registraram boletim de ocorrência por injúria racial.
Deputados que se manifestaram contra ou não têm uma resposta definitiva sobre o tema deram diferentes justificativas para o posicionamento. Bosco Saraiva (Solidariedade / AM) afirmou que as vacinas estão “em fase experimental”, Dr. Luiz Ovando (PSL/ MS) argumentou que é mais fácil ser imunizado contraindo o vírus do que pela vacina – afirmações que não têm comprovação científica – e Reinhold Stephanes Jr. (PSL-PR) disse apenas ter “nojo da esquerda”.
Em sua maioria, os parlamentares usam como justificativa a “liberdade individual”. Numa discussão em um grupo com 6 mil membros no Telegram, uma usuária disse que, para evitar o rótulo de negacionista, a comunidade deve falar que é a favor “da liberdade” em vez de se manifestar abertamente contra o passaporte.
Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro disse que a vacina só poderia ser aplicada “com receita médica” e consentimento dos pais. Já o ministro da Saúde Marcelo Queiroga defendeu que as mortes nessa faixa etária pela doença não demandam “decisões emergenciais”.
Foram contabilizadas até agora que 1.148 crianças de 0 a 9 anos já morreram de covid no Brasil. Em nota, a Anvisa reforçou que “seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas”.