Suspeitas de irregularidades na gestão da Federação Paraibana de Ciclismo levaram o Ministério Público a pedir a extinção da entidade.
A Justiça comum só intervém na área do esporte quando todos os recursos na esfera desportiva se esgotam.
“O que envolve federação, competições e disciplina é julgado pela Justiça desportiva. Só quando esta estiver esgotada é que um caso é encaminhado à Justiça comum”, diz Rubens Aprobatto Machado, ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva.
“Se for um engodo para tomar dinheiro, pode ir para a Justiça [comum]”, afirma.
A Fifa e o COI (Comitê Olímpico Internacional) não gostam de interferências da Justiça comum.
O promotor Alexandre Jorge Nóbrega, do Ministério Público da Paraíba, foi enfático depois de analisar lista de denúncias contra a federação de ciclismo de seu Estado.
Requisitou a extinção da entidade ou que se renove totalmente sua direção –o mandato do corpo dirigente terminou no último dia 31.
Entre as denúncias examinadas por Nóbrega estão perseguição a atletas, nepotismo, contração de dívidas com a Receita Federal, sonegação de informações e promoção irregular de eleições.
Os filhos do presidente Jader Ribeiro Silva e do vice Paulo Pereira de Sousa receberam verba do programa estadual Bolsa Atleta após serem indicados pela entidade.
O valor do benefício fica entre um salário mínimo (hoje de R$ 678) e R$ 1.500.
Segundo o autor da denúncia, o ciclista Antonio Almério Ferreira Marra Júnior, foram beneficiados Jader Ribeiro Silva Segundo e João Paulo Leite de Souza, entre 2008 e 2009. Um segundo filho de Sousa teria recebido verba de mesma origem, mas via federação estadual de triatlo.
Aprobatto Machado diz que, se o juiz acatar a orientação de Nóbrega, a Paraíba ficará sem entidade que organize o esporte no Estado.
E seus ciclistas, para competirem em competições oficiais, teriam de se filiar a federações de outros Estados.
Nóbrega pediu que seja feita uma audiência pública no dia 16 para debater eleições e alterações no estatuto da entidade, caso se decida por sua manutenção.
OUTRO LADO
A Folha ligou para Federação Paraibana de Ciclismo, para Jader Ribeiro, presidente da entidade, e Paulo Pereira de Sousa, mas não conseguiu contato nesta semana.
Procurada, a Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer da Paraíba, que repassa a verba do Bolsa Atleta à federação, informou, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria sobre as suspeitas de irregularidades na FPC por ser um episódio ocorrido durante o governo anterior.
A secretaria afirma que o programa estadual Bolsa Atleta fora desativado em meados de 2010 e há apenas duas semanas foi retomado. Os filhos dos dirigentes teriam recebido o benefício entre os anos de 2008 e 2009.
A secretaria acrescentou ainda que um dos critérios para que um desportista seja beneficiado é que seja federado e, de fato, pratique a modalidade.
Folha de S.Paulo