A vida é bela e a essência do que é viver só nos é mostrada pelo Criador quando uma linha tênue separa o existir do cataclisma, a liberdade da ditadura, o amor do ódio, o apego do desapego.
Desde muito novo aprendi com minha avó materna que só há independência com trabalho e ninguém consegue se impor se não for dono do próprio nariz.
Mãe Ana hoje tem 97 anos e não mora mais em Cacimba de Dentro, pois intercedemos em nome do que ela nos ensinou e a trouxemos para perto de nós para explicar aos demais que só vale a pena vivermos com dignidade.
De minha avó ouvi histórias sobre o meu avô Euclides e delas aprendi a não me curvar ou render diante das pressões. Se você vai me encarar, amigo, saiba que aqui o côco é seco; se vai me acompanhar saiba que a passada é larga. No entanto, há sinceridade em tudo que falo.
Já fui incendiário e arremessei Coquetel Molotov na tropa de choque, pichei os muros da cidade de João Pessoa escrevendo “abaixo a ditadura” nos governos Geysel e Figueiredo, montei e desmontei um fuzil automático leve dezenas de vezes e estive pronto para usá-lo em defesa da liberdade, mas jamais perdi a ternura e quem me conhece sabe que me emociono por qualquer coisa.
Tolero tudo menos o cerceamento da liberdade e esta é a causa que me move e um dia ainda serei um jornalista sem fronteiras, daqueles que percorrem guerras e guerrilhas, revoluções e contrarrevoluções, para trazer à tona a verdade do ponto de vista dos miseráveis.
Guardo dentro de mim um vulcão e aos quase cinquenta ainda sou o mesmo que puxava palavras de ordem nas passeatas estudantis dos anos de chumbo.
Sou leal e abraço espontaneamente a causa dos esquecidos, mas só lhe peço um favor “inimigo nada oculto”: não me provoque, pois talvez não vá gostar de me ter no seu encalço dia e noite vasculhando o seu lixo e luxo.
É de quem luta pela liberdade enfrentar de frente a fera ferida. Para o guerrilheiro a guerrilha nunca acaba.
Mude sem ficar mudo, pois se insistir na malícia talvez você não aguente o sopapo. Todo escrito aqui nesse diário de bordo.
Não me teste. Como diria Sidarta, pare de querer mudar o curso do rio e observe-o feliz e sinuoso correndo em direção ao mar.
E sou como a borboleta.