O processo de canonização de dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife e idealizador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), avança rapidamente no Vaticano.
Chamado de comunista pelos mais radicais, os ataques ao religioso, falecido em 1999, voltaram a ser proferidos, agora amplificados pelas redes sociais, após a notícia de que o cearense está cada vez mais próximo de ser canonizado.
Dom Hélder dedicou sua vida na defesa dos oprimidos, explicando que a alcunha de “comunista” veio justamente por se preocupar com os mais pobres. “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”, disse.
Por seu trabalho como porta-voz aguerrido dos direitos humanos e da não violência, dom Hélder Câmara está a caminho da santificação. Contudo, o trâmite é complexo, envolvendo pelo menos quatro etapas, nas quais o postulante acumula títulos à medida que cumpre certas exigências.
Primeiramente, o pedido de canonização é apresentado ao Dicastério das Causas dos Santos, um braço do Vaticano. Quando aceito, o contemplado recebe o título de Servo de Deus, já obtido por oitenta brasileiros. Depois, deve ser enviada uma documentação incluindo testemunhos e documentos escritos ao órgão da Cúria Romana, que é o responsável pelo processo.
Na semana passada, foi anunciado durante o 18º Congresso Eucarístico Nacional, em Pernambuco, que o decreto de Validade Jurídica de dom Hélder já foi emitido. Agora, é esperada a nomeação de um relator para a elaboração do “positio”, documento que deverá reunir as “virtudes heroicas cristãs” do candidato a santo.
Por fim, o material será analisado por uma comissão de historiadores, teólogos, bispos e cardeais indicados pelo Vaticano. “Com a aprovação dessas comissões, o papa poderá declará-lo venerável”, disse o frei Jociel Gomes, um dos responsáveis pela documentação.
Os últimos passos da caminhada, chamados de beatificação e a canonização, pela qual já passaram 37 brasileiros, demoram mais tempo. Para tornar-se beato, deve ser apresentado um milagre atribuído ao candidato que, geralmente, trata de uma cura ou algo semelhante.
Já para a santificação, um segundo milagre se faz necessário. Contudo, com a aceleração dos processos de canonização pelo papa Francisco, muitas vezes apenas um feito é suficiente. Esta é a fase em que se encontra o processo de dom Hélder.
“A rigor, uma figura como dom Hélder não precisaria de milagre para que o processo andasse”, revelou a irmã Maria Vanda de Araújo, presidente do Conselho Curador do Instituto Dom Hélder Câmara, à revista Veja. “O maior milagre, o maior testemunho que se pode ter dele é a sua vida”, completou.
O papa Francisco conferiu velocidade ao rito, dando prioridade a figuras com jornadas de vida que inspirem outras pessoas. “É o caso do monsenhor Romero, bispo de El Salvador, e do monge eremita francês Charles de Foucauld”, destaca Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A trajetória de dom Hélder Câmara é surpreendente. Na juventude, flertou com o integralismo, a versão brasileira do fascismo, para depois abraçar de vez o humanismo. Por sua pregação incansável em prol dos mais pobres, foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, feito jamais repetido por outro brasileiro. Agora, com sua santificação cada vez mais próxima, será eternizado pelos católicos.
Redação com Veja