Se eu fosse Walter Aguiar enfiava a cabeça no chão feito avestruz e nunca mais passava em frente do Lyceu, nem de madrugada, com vergonha por ter empenhado a palavra que sabia que não poderia cumprir.
Senti pena de Walter e me constrangi junto com ele naquela reunião com estudantes. Aquela baraúna, que um dia militou na OSI e defendeu causas, fingiu ser cara lisa e mentiu descaradamente para os estudantes.
Walter sabia que Ricardo não voltaria a trás e o interventor estaria bem cedinho no Lyceu para tomar posse, mas usou o enrolation acreditando que travaria o movimento.
Que cara de pau! Até parece que não conhece a fúria juvenil e o senso de justiça em forma bruta, sem máculas, que um coração de estudante carrega batendo dentro do peito.
Se eu fosse Walter Aguiar jogava o chapéu, ia na Granja Santana e, com toda aquela educação que lhe é peculiar, dizia na cara do governador que a história lhe reservou vários papéis, menos o de “Cabo Anselmo”.
Já faz tempo em que ouvi minhas amigas Regina e Darlene tecendo elogios ao camarada “Walter Preto”, uma figura que aquele radicalismo chapliniano de Edvaldo Faustino pintava como rebelde sem causa.
Walter Aguiar deixou de ser sujeito para ser coadjuvante da história, revolucionário para ser algoz, verbo para ser adjetivo, Trotsky para ser Stalin.
Se eu fosse Walter Aguiar voltava aos primórdios do Sagarana, fundia alecrim com cravo, pimenta do reino com alho do mato, indo do doce ao salgado para que a vida seja sempre agridocemente plural.
Não cabe naquele revolucionário o papel de enrolador oficial, pois sua vocação é para as mudanças e não para os retrocessos. Walter é parteiro e não coveiro de nossos ideais.
Pelo menos não foi isso que aprendemos sob a mira das baionetas. Aqueles companheiros que tombaram, tombaram em vão? Era apenas um arroubo? A história mentiu pra gente?
Esse embusteiro que se diz governador ainda brigava com seus traumas em frente ao espelho quando torcíamos por Cleusa Turra e as trincheiras da USP, ouvíamos Bob Dylan, Vandré e sonhávamos com revoluções permanentes em “O Trabalho” e a Quarta Internacional Socialista.
O papel que deram a Walter é o de traidor. Cabe a ele agora aceitar as trinta moedas e se enforcar em uma daquelas árvores em frente ao Lyceu.
Bato agora na porta de sua consciência e pergunto: Quem está aí é Walter Preto ou Cabo Anselmo?
Com todo respeito, lhe dou o tempo que precisar para responder, mas, por favor, não rasgue seu legado, pois esse dublê de caudilho não vale a pena e será recolhido à lata do lixo da história pelos corações de estudantes.