No meio dessa angústia que a esquerda vive por ser a principal culpada pelo surgimento de um caudilho na Paraíba, confesso que senti cheiro de Vick Vaporub descongestionando sensações e o lado esquerdo do peito respirando mais aliviado quando soube que o camarada Walter Aguiar não tem sangue de barata.
Apesar de não ter pertencido à mesma célula revolucionária de Walter, fui seu colega na Libelu, grife estudantil da OSI – Organização Socialista Internacionalista -, agrupamento que atuava clandestinamente no Brasil durante a ditadura militar.
Os tempos eram de chumbo e acreditávamos que um regime que entrou na marra pela imposição das armas, só através das armas seria debelado, mas fazíamos nossa parte civilizada infiltrados no Partido dos Trabalhadores.
Como se fosse hoje, me lembro do risco que corríamos para pegar os documentos secretos que vinham dentro de um pedido da Avon, que semanalmente chegava e eu, Edvaldo Faustino, Regina, Chico Gato e Darlene íamos suando frio retirar lá na rodoviária.
Éramos no finalzinho dos anos 70 os principais revendedores de Avon na Capital, pois tínhamos que tirar pedidos semanais para fazer os documentos com as orientações do comando nacional chegarem as nossas mãos dentro da encomenda.
Às vezes decidíamos ir todos juntos, uns monitorando os outros para, em caso de prisão pelo DOPS ou Exército, avisarmos aos demais que a casa havia caído. Nosso grupo somava cerca de 30 militantes.
Para nós Walter era uma lenda, pois estava em São Paulo operando junto à cúpula da OSI e do PT e o seu apelido era Walter Preto, que era para diferenciar de Walter Dantas, dirigente do PC do B.
Brincamos de guerrilheiros, fomos revolucionários e preparamos o terreno para as novas gerações desfrutarem da democracia.
Aquela turma não ia aos assustados da época, não se bronzeava na praia, viu a adolescência e a juventude passar em nome de uma causa. Dia de jogo da seleção era o nosso preferido para atos considerados subversivos. O povo em transe, pessoas sendo torturadas e a Libelu botando pra descer.
Hoje cada qual seguiu seu caminho, mas estamos unidos por um tênue fio de lembranças e lições…” O Chile não é o Brasil, Lula pode vir a ser um revolucionário, Calistrato, preso em Itamaracá por assalto a bancos para comprar armas para a guerrilha, deve ser o nosso foco na anistia…” O tempo não volta, mas não pára.
Ao contrário de Walter, deste blogueiro e dos amigos que citei, inclusive Darlene já partiu para o além, Ricardo Coutinho não estava lá, nunca esteve e surgiu como militante do PT já no pós ditadura como um oportunista, carreirista cheio de complexos, que viu na política a sua chance de ser aceito e ascender feito alpinista social.
Disse tudo isso para lembrar aquele Walter que se olha no espelho e não encontra mais as referências históricas, que pior do que criar o monstro é se omitir diante de suas monstruosidades.
Há diferenças sutis entre o socialismo e o nacional socialismo; entre um líder carismático e um populista, entre a OSI e a Convergência, entre fazer a revolução e desfazer a revolução. Preste atenção nesta foto a seguir, perceba o semblante do seu dono, o ponto no seu ouvido e os exageros de quem se acha ungido, Nenhum líder é maior do que a causa e quando for é porquê o é em causa própria.
Não é errado fazer o que o que povo clama. O destino reservou a cada um de nós um papel e não estamos entrelaçados por acaso.
Cumpra a sua missão e mais uma vez ajude a derrubar a ditadura. ” En tiempos difíciles hay que endurecer el corazón sin perder la ternura…”