Não sou um cara a espera da previsibilidade, a moça do tempo do Jornal Nacional é a descontração do formato tenso da notícia e sempre achei que um dia testemunharia o sertão virando mar, mas espero nunca ser testemunha ocular do mar virando sertão.
Estou em Sousa e pra chegar aqui me alternei na direção com meu filho Hyttalo Hallef por quase cinco horas de viagem.
Sabemos que a Paraíba é comprida e estreita e que João Pessoa é um extremo e São José de Piranhas outro. Entre um e ou outro fica a bucólica Soledade.
Saí de João Pessoa até a Praça do Meio do Mundo debaixo de um temporal daqueles que a cortina de chuva só é contrastada pelas faixas contínua e incontínua do asfalto ou pelos faróis em sentido contrário.
Achei normal que o temporal me acompanhasse até a entrada do Cariri, mas comecei a achar tudo muito estranho quando ele insistiu em manter os limpadores do parabrisa acionados e iniciei a descida da Serra de Sanra Luzia, de onde exalava aquele cheiro de terra molhada.
Desci a serra sinuosa sob chuva, passei pelo Vale do Sabugi vendo poças de água nas laterais do asfalto e só vi o tempo enxugar quanto avistei Patos. Cá com os meus botões, refleti: a chuva veio de carona comigo até a morada do sol e daqui pra frente o cenário volta a ser o esturricado de sempre.
Mas, aconteceu de novo na sexta feira incomum. Quando passo por Condado a chuva volta a castigar, nuvens pesadas sobrevoam Pombal e nem a picanha nobre que saboreei com os amigos Levizinho e Marcos Bandeira no Gibão esquentou o meu dia frio desde a madrugada na Capital.
Chego em Sousa e as várzeas estão verdíssimas, entro no hotel e fico sabendo que fez frio na noite anterior. Pronto, chegou o dia de testemunhar o sertão virando mar. Frio em Sousa é coisa que Mariz nunca imaginou.
Cai a noite e recebo o telefonema de Gutemberg Cardoso avisando que estava parado no acostamento entre São Bentinho e Pombal a espera de visibilidade, coisa que só após um pé d’agua passar. Tomo banho quente, visto camisa de manga comprida e, por um momento, achei que estava em Bananeiras.
Tá frio em Sousa. Não aquele de congelar nariz, mas uma coisa tipo vento gelado de frezer aberto sob calor de verão, clima temperado.
Chove chuva, chove sem parar até a profecia se cumprir e o sertão virar mar.