Quando o corpo do radialista Fernando Gabeira desceu ao subsolo do Parque das Acácias e seu espírito se libertou desse plano terreno coube ao menestrel Weber Luna escrever o último texto.
“Gabeira é vítima desse mercado hipócrita de rádio e TV”, disparou o velho redator/produtor, espécie de segundo pai do gênio da interpretação, que nos deixa prematuramente.
Fui às lágrimas quando soube que a viúva Gerlane e os filhos tinham ficado desamparados, sem casa própria, sem feira e sem pensão.
É que Gabeira vendia barato e fiado o seu talento. Cobrava muito pouco pela alegria que proporcionava e imitava qualquer um só para arrancar uma gargalhada de quem estivesse ao redor.
O último texto que Weber escreveu para Gabeira gravar foi sobre ele próprio, o artista desleixado, que saiu de cena tão rápido que nem tempo de pedir aos amigos amparo para sua prole teve.
Aliás, conhecendo Gabeira como conhecia e até personagem de uma das suas imitações fui, tenho certeza que ele ficou todo o velório pedindo a cada de nós que fizesse o que estou fazendo agora.
Senhores que estão no poder, a saber: Ricardo, Cássio, Romero e Cartaxo; senhores donos de sistemas de comunicação, a saber: Eduardo Carlos, Roberto Cavalcanti e João Gregório, devolvam a família de Gabeira o talento que ele em algum momento emprestou a cada um de vocês.
Peço que amparem a família do nosso amigo com um gesto de solidariedade, devolvendo aos seus herdeiros o maior patrimônio que aquele gênio carregava.
Alegria, esse era seu sobrenome.