O Ministério Público da Paraíba (MPPB) está investigando uma denúncia grave envolvendo uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, localizada no município do Conde, no Litoral Sul da Paraíba. A instituição foi fechada nesta quinta-feira (5) após uma operação conjunta que resultou no resgate de 47 internos que relataram uma série de abusos físicos, psicológicos e condições degradantes.
De acordo com o MPPB, os familiares dos internos pagavam mensalidades entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, mas os pacientes viviam sob ameaças, agressões físicas e psicológicas e alimentação precária. Entre as refeições, estavam cuscuz com salsicha, hambúrguer triturado com soja, além de denúncias de uso de medicamentos sedativos sem consentimento, o que deixava os internos dopados por horas.
A denúncia aponta que, durante as visitas familiares, os pacientes não podiam relatar o que acontecia dentro da clínica, sob o risco de retaliações. A denúncia diz ainda que as ligações telefônicas eram monitoradas, e qualquer tentativa de denúncia resultava em punições, como o isolamento e o trabalho forçado dentro da instituição. Alguns relataram que foram forçados a tomar remédios, mesmo sem prescrição, e outros apresentavam lesões visíveis, sendo levados para exames de corpo de delito.
A operação contou com a atuação direta do promotor Demétrius Castor de Albuquerque, com o apoio da Polícia Civil, das secretarias municipal e estadual de Saúde, do CREAS e da Proteção Social Especial de Alta Complexidade. “Nos deparamos com uma situação de violação de direitos. Agora, estamos em contato com os familiares para que os acolhidos sejam retirados com dignidade e recebam os devidos atendimentos médicos e psicológicos”, explicou Felipe Conserva, subgerente de proteção social.
Os internos, todos do sexo masculino, também relataram cobranças extras por atividades como a “noite da pizza” — no valor de R$ 100 por pessoa — e taxas para deslocamentos em veículos da clínica. Os quartos eram superlotados, com até dez pessoas por ambiente, em beliches apertadas.
A investigação segue em andamento para identificar os responsáveis legais e operacionais pela clínica. O local, de difícil acesso, fica em um ramal cercado por canaviais, o que, segundo as autoridades, pode ter sido escolhido estrategicamente para evitar fugas e fiscalizações. O caso é tratado como estarrecedor pelas autoridades, e novas diligências deverão ocorrer nos próximos dias.
O Ministério Público orienta que familiares ou ex-pacientes que tenham informações ou denúncias entrem em contato com os canais oficiais para auxiliar na apuração completa dos fatos.