Sua insistência em questionar o atual sistema eleitoral fez Jair Bolsonaro perder uma grande parte de seus apoiadores. Segundo empresária Maria Alice Setubal, conhecida como Neca, no grupo da debandada está inclusa parte da elite brasileira.
A presidente do conselho curador da Fundação Tide Setubal e herdeira do Itaú concedeu entrevista à BBC Brasil, onde afirmou que a democracia brasileira está em risco.
“Como tem sido amplamente discutido por sociólogos e politicólogos, os ataques à democracia do mundo contemporâneo, no século 21, normalmente não são dados através de golpes, mas pelo enfraquecimento contínuo [das instituições] a partir de dentro da própria democracia”, declarou.
“O Brasil está dentro desses casos de governos eleitos democraticamente, mas que vão corroendo as próprias instâncias democráticas. Tanto através de mudanças na legislação, como, no Brasil, da eliminação de 90% dos diferentes conselhos que faziam parte da governança das políticas públicas”, acrescentou.
Na conversa com a BBC Brasil, Neca revelou que a virada de chave para que parte do empresariado brasileiro do setor privado rompesse com o silêncio foi motivada pelo questionamento das eleições por parte do presidente.
“Na hora em que você questiona o sistema eleitoral, você está questionando a democracia e gerando uma possível instabilidade que sempre assusta o mercado”, destacou.
A empresária foi uma das 267 signatárias de um manifesto em defesa do sistema eleitoral e da ordem democrática enviado ao governo federal.
O documento foi publicado em página inteiras nos principais jornais do País nesta quinta-feira (12), endossando a confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral.
“A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico”, diz a carta.
Sobre o vota para presidente em 2022, Neca disse não ter a menor dúvida, será em Lula, de acordo com o cenário que está sendo construído para o segundo turno.
“O cenário brasileiro está muito instável, a cada dia é uma nova situação, um novo contexto. É muito difícil fazer uma previsão para 2022 — nem sabemos se haverá Bolsonaro ou se terá um processo de impeachment ou o avanço de outros processos que ele está sofrendo no TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e no STF [Supremo Tribunal Federal]”, concluiu.
Carta Capital