Numa entrevista concedida no início de setembro à ativistas de extrema-direita da Alemanha, Jair Bolsonaro resgatou o que há de pior em seu discurso negacionista em relação à pandemia da Covid-19. Ele repetiu que há supernotificação de mortes pela doença no país e que, na maioria dos casos, as vítimas eram pessoas com comorbidades e o coronavírus apenas encurtou suas vidas em alguns dias ou semanas.
Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista de pouco mais de uma hora a Markus Haintz e Vicky Richter, do movimento negacionista Querdenken, ligado à extrema-direita da Alemanha no dia 8 de setembro. O encontro não foi registrado nem na sua agenda oficial ou nas mídias sociais. O conteúdo da conversa foi divulgado na última segunda-feira (20) nas redes sociais dos ativistas.
No assunto sobre a Covid-19, Bolsonaro disse aos dois entrevistadores, que são declaradamente anti-vacinas e divulgam conteúdos contra medidas sanitárias em seus canais na internet, que no Brasil os dados sobre óbitos em decorrência da doença foram aumentados, acusando também hospitais de transferirem as pessoas para as UTIs para ganharem mais dinheiro.
“Uma pessoa na UTI por Covid custa 2 mil reais por dia. Uma pessoa numa UTI com outras doenças custa 1 mil reais. Então quando uma pessoa mais humilde vai no hospital ela é levada para a UTI porque os hospitais vão ganhar mais dinheiro, então tem uma supernotificação. Isso aconteceu. O número de mortes no Brasil foi superdimensionado”, afirmou Bolsonaro.
Para as falas do presidente a respeito das supernotificações não há provas. Pelo contrário, diversos especialistas apontam que, na verdade, há mais mortos e casos da Covid-19 no país do que o registrado. Isso porque o Brasil nunca disponibilizou um sistema de testagem em massa da população e muitas pessoas podem ter falecido em decorrência da doença e suas complicações sem mesmo terem sido diagnosticadas com o coronavírus.
Bolsonaro também minimizou os óbitos por Covid-19, alegando que a maioria das vítimas morreria por serem portadoras de comorbidades e o coronavírus apenas encurtou suas vidas em dias ou semanas. “Muitas tinham alguma comorbidade, então a Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas”, falou, se esquecendo da existência do falecimento de pessoas sem qualquer doença pré-existente.
O chefe da Nação aproveitou a oportunidade para voltar a defender o chamado tratamento precoce, composto por medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, dizendo que “pagou um alto preço” por essa defesa. Ele voltou a dizer que não obrigará nenhum brasileiro a se imunizar.
Continuando o repertório de mentiras, declarou que vacinas como a chinesa CoronaVac são experimentais e por isso não iria impor que os cidadãos sejam objetos da experiência científica. Em uso no Brasil o imunizante possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial e já teve sua eficácia e segurança comprovadas em testes abrangentes.
IstoÉ