Prefeitos de capitais e grandes cidades querem ajuda do governo de Jair Bolsonaro (PL) para evitar um “tarifaço” nas passagens de ônibus. Pedem subsídio para a gratuidade dos idosos. A proposta está no Congresso. Custo: R$ 5 bilhões anuais.
Parte significativa do aumento nos preços no ano passado foi puxada pelo setor de transportes. A inflação atingiu 10% no ano, mesmo sem aumentos substanciais das passagens dos coletivos. Agora, reajustes serão feitos. O percentual vai depender do acordo entre governo, prefeituras e empresas.
Pelo menos 41 prefeitos anunciaram aumento na passagem de ônibus até a última terça-feira (11), mostra levantamento da NTU, associação que representa as empresas de transporte. Os governantes locais dizem precisar recompor perdas com a inflação e reduzir o rombo no caixa das empresas e dos municípios.
É uma situação delicada. Houve reajustes nas passagens acima de 10% em 27 das 41 cidades que definiram os preços das tarifas de 2022. O maior aumento foi em São Gabriel da Palha (ES), de 53,3%. 4 capitais anunciaram reajustes para 2022 até o momento: Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Vitória (ES) e Fortaleza (CE).
Há quem vá na contramão. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato ao governo de Minas Gerais, anunciou a redução da tarifa de R$ 4,50 para R$ 4,30. Além disso, gastará R$ 12 milhões por mês para subsidiar as passagens de idosos, pessoas com deficiência e alguns funcionários públicos.
Fevereiro sem Carnaval
O mês será marcado pela pressão dos sindicatos por aumento de salários, o que também impacta no preço da passagem. Até lá, a FNP (Frente Nacional de Prefeitos) espera solução que alivie as contas de cerca de 3.000 cidades que têm sistema de transporte coletivo.
O Congresso retoma os trabalhos em fevereiro. Há expectativa de que um acordo seja fechado.
Felicio Ramuth, que atua no setor de mobilidade da frente de prefeitos e administra São José dos Campos, diz que a situação merece atenção. “O transporte público tem que ser visto como interesse social”.
O preço das passagens atinge diretamente o bolso da população mais pobre. Afeta as contas das empresas e os orçamentos das prefeituras. É um dos vilões da inflação. A depender do nível de reajuste, pode piorar o humor da população a 9 meses da eleição.
O presidente Jair Bolsonaro já sinalizou que alguma medida pode ser adotada. Quer evitar o risco do que ocorreu em 2013, por exemplo, quando uma onda de protestos se desencadeou no país inteiro depois de aumento de R$ 0,20 nas tarifas de São Paulo. A repulsa da população caiu no colo da então presidente, Dilma Rousseff (PT).
Risco
Otávio Cunha, presidente-executivo da NTU, diz que as empresas de ônibus acumularam dívidas de R$ 22,4 bilhões na pandemia por causa da baixa demanda. Com o home office e o isolamento social, as pessoas ficaram mais em suas casas. O déficit operacional das companhias está em 17%.
Segundo o executivo, os reajustes feitos até agora ainda não compensaram os aumentos dos custos. Os combustíveis saltaram 60% em 2021. Segundo Cunha, essa alta precisaria ser compensada por um reajuste de 15% nas tarifas.
De acordo com o presidente-executivo da NTU, os R$ 5 bilhões pedidos ao governo são suficientes para pagar 7% do custo do sistema.