Com o reajuste, somente este ano, de 51% no preço da gasolina e de 38% no preço do diesel pela Petrobras, parte da população brasileira não tem mais a opção de se deslocar através de veículos geridos por aplicativos.
Entre 29 de agosto e 4 de setembro, o valor máximo da gasolina encontrado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) no país foi de R$ 7,199 por litro, enquanto o do etanol chegou a R$ 6,999. O pico do diesel no período foi de R$ 6,490 por litro.
A população, que vem voltando ao trabalho presencial, fica emparedada: quem tem carro, quer usar o aplicativo para economizar com o combustível e diminuir custos com estacionamento. Quem não tem, volta a ficar refém do transporte público, que oferece maior risco de contaminação por Covid-19.
“Os carros por aplicativo podem ser um ótimo complemento ao transporte público, mas precisam ser regulados”, diz Cristina Albuquerque, gerente de mobilidade urbana do instituto de pesquisas WRI Brasil. Em rotas com ampla oferta de transporte público, diz ela, a tarifa do carro por app poderia ser um pouco mais cara do que em trechos onde há escassez de ônibus, trens e metrô.
Os próprios motoristas reclamam do preço alto do combustível e dizem que, dependendo da distância que estão do passageiro e do trecho da corrida, não compensa o deslocamento e a corrida é cancelada.
Uber e 99 afirmam que a alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da vacinação e a reabertura do comércio em todo o país. Nessa sexta-feira (10), elas anunciaram reajustes devido ao preço dos combustíveis. Enquanto a 99 elevou tarifas, a Uber informou que aumentou apenas o repasse aos motoristas.
Na 99, o aumento vai de 10% a 25% e vale para mais de 20 regiões metropolitanas, incluindo São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador.
“Os constantes reajustes dos combustíveis impactaram muito negativamente os serviços de transporte por aplicativo”, afirmou a 99. “O aumento revisa os ganhos dos motoristas parceiros e foi definido levando em consideração a manutenção do equilíbrio da plataforma”.
No caso da Uber, a empresa afirma que não haverá mudança na tarifa para o usuário, apenas no repasse para o motorista. Nesse caso, o reajuste no repasse será de até 35% para viagens UberX, a categoria mais popular do aplicativo, na região metropolitana de São Paulo. Segundo a empresa, os ganhos dependem do horário e do local em que o motorista atua.
Por meio da sua assessoria de imprensa, a Uber afirmou que “entende a insatisfação causada pelos impactos (do aumento do preço dos combustíveis) em todo o setor produtivo e, por isso, tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos”.
As empresas dizem ainda que os motoristas têm autonomia para escolher quais corridas desejam fazer e, assim como os passageiros, têm a liberdade de cancelar viagens – as companhias, porém, têm um limite de corridas que podem ser canceladas sem ônus tanto para os passageiros quanto para os motoristas.
“Cerca de 20 milhões de passageiros escolhem usar a 99 todos os meses para se locomover, a maior parte delas da classe C”, diz Lívia Pozzi, diretora de operações da 99.
Segundo ela, a empresa já fez parceria com a Shell para oferecer desconto de 10% na postos da rede. “Mas a escala de aumento que temos visto é muito alta”, diz.