Quando o ambiente tóxico da internet ganhou destaque no Brasil devido ao precoce falecimento do filho da cantora Walkyria Santos, que tirou sua própria vida aos 16 anos após receber inúmeros comentários de ódio nas redes sociais, o programa 360 graus trouxe o psicólogo Theo Salles para debater a influência do mundo virtual na vida dos jovens. No bate-papo, o psicólogo alertou sobre o perigo da internet para os adolescentes, que vem se tornando um veículo de transmissão de ódio.
Escondidos atrás da tela do computador ou celular, os usuários das redes sociais se sentem confortáveis para comentar sobre tudo. E os assuntos são diversos: desde a novela que está passando na televisão à vida dos famosos. Quando se trata da vida alheia, eles se sentem à vontade para palpitar, despejando opiniões indesejadas e destilando ódio. E esse julgamento execrável pode acabar com a vida de alguém. Theo Salles explica que na maior parte dos casos, o suicídio é fruto de um impulso. Entretanto, em outras situações, a pessoa apresenta sinais de que não está bem psicologicamente.
“A grande maioria dos suicídios que acontecem são impulsivos. Acontece normalmente de uma forma não pensada, sem pensar nas consequências e etc. É muito mais fácil para alguém que já passou por um processo de depressão, de ação suicida, que chegue a cometer o ato. Existe uma lenda urbana que se fala ‘cachorro que ladra não morde’ e quem fala que vai se matar, não se mata. Isso infelizmente é uma lenda. A gente tem que levar em consideração todo aviso, todos os sinais”, comentou.
A adolescência é uma fase de natureza conturbada. Mas Theo salienta que não deve ser uma fase triste, depressiva e pede que os pais não achem normal seus filhos apresentarem tendências suicidas, justificando o sentimento pela ação fervorosa de seus hormônios. “Quando a gente fala sobre a possibilidade do suicídio temos que ficar atentos. Claro que a adolescência é um momento de transformações, é um momento de mudanças, principalmente sociais, onde a pessoa está tentando se provar, socialmente falando, está construindo sua identidade para se tornar adulto. É uma fase conturbada, concordo, mas não é uma fase de tragédias”, frisou.
O processo depressivo de um jovem pode ser identificado por sinais, alguns deles físicos. O adolescente, como é o caso do filho da cantora paraibana, pode querer ficar mais isolado das pessoas de seu convívio, se desfazer de bens pelos quais tinha apreço, ter queda no desempenho escolar, apresentar sintomas como dor de barriga e enjoo. Porém, é importante salientar que esses indícios não necessariamente indicam um processo suicida.
O psicólogo ainda aconselha os pais sobre como lidar com seus filhos, estendendo sua fala também às pessoas que convivem com outras pessoas. Ele frisa que é preciso ser gentil, ter empatia e dialogar. Compreender o outro e dar espaço para que ele possa se expressar verdadeiramente, sem julgamentos, cria um ambiente seguro para quem está passando por alguma confusão psicológica.
“A gente nunca sabe pelo que o outro está passando. A pessoa que está ao nosso redor pode estar passando por um problema inimaginável. E pros pais, costumo dizer que nada que diálogo e empatia não resolva. Dá abertura pro seu filho se colocar enquanto uma pessoa que está em sofrimento dentro do núcleo familiar e expor essas emoções já é meio caminho andado para salvar essa pessoa”, alertou.
O jovem, que naturalmente passa por restrições emocionais e sociais em razão dessa fase da vida, ao se deparar com o veículo de comunicação extremamente poderoso, como é a internet, tende a potencializar seus sentimentos. Uma brincadeira inocente postada por ele em suas redes sociais pode ganhar alta repercussão, atraindo comentários negativos. Se para um adulto é difícil lidar com críticas, o cenário tende a agravar quando o criticado é um adolescente.
“O potencial da internet é interessante. Ela realmente pode mover montanhas como ela pode destruir uma montanha. Então, é muito de como se usa. E acho interessante a frase ‘a internet está doente’ mas a internet é composta de que? Composta por pessoas e as pessoas compõem uma sociedade. Isso fala muito sobre a sociedade em si”, ponderou Theo Salles, que revelou temer que a sociedade se acostume com as tragédias, com mortes, com desprezo e com a violência, parando de se importar com o outro.
Assista à entrevista completa com Theo Salles: