Como aquela propaganda do Bamerindus, um banco que não existe mais, o tempo passa, o tempo voa. Parece que foi ontem, mas já se vão 32 anos da anistia. Ela deveria ter sido ampla, geral e irrestrita? Há quem diga que os torturadores acabaram beneficiados ao invés de punidos.
Discussões mais profundas a parte, entrei na luta contra a ditadura pela porta do movimento secundarista, mas sempre estive a frente do meu tempo e circulava por outros núcleos por achar a luta estudantil muito enfadonha, apesar de vanguardíssima.
Nessas andanças fiz contatos imediatos com uma dupla tão inseparável que até presos juntos foram durante os anos de chumbo. Falo de Washington Rocha e Sérgio Botelho, de certa forma os “culpados” pela minha irreverência.
Andava com eles para cima e para baixo feito mascote do alto dos meus 15 anos e era chamado de estudante pra cá, estudante pra lá. E eu era isso mesmo: aprendiz de revolucionário.
A Playboy só mostrava um peito e o nu frontal era censurado, mas da vida eu já tinha PHD só por andar com Sérgio e Washington.
Apesar de nenhum dos dois pertencer a OSI, organização clandestina em que eu militava, acabaram recebendo apoio quando o PT disputou a primeira eleição e ambos foram candidatos.
Sérgio tinha perdido o emprego na UFPB, o casamento fracassado e morava em uma quitinete do Vina Del Mar; Washington era dono de um sebo em frente ao SESC. Lia mais do que vendia e faliu.
Divergiam o tempo todo, mas eram brilhantes e grandes amigos. Quando foram presos pelo Exército circularam dentro de um carro por toda a cidade e foram largados ali embaixo daquele viaduto da Epitácio.
Contavam-me e subia aquele friozinho na barriga. Queria ter a mesma sorte caso caísse. Sair vivo.
A ditadura estava querendo cair quando Washington assumiu a presidência do Comitê Paraibano pela Anistia.
Fui às reuniões na sede da API, e tive a alegria de testemunhar a libertação de José Calistrato do presídio de Itamaracá.
Depois testemunhei Derly recuperar os direitos políticos e Sérgio Botelho voltar a UFPB.
Com Washington Rocha e Sérgio Botelho fiz a Folha Socialista, o Showcialista – onde conheci João do Vale lá no rancho de Castelo, levado que foi pelo amigo Jarbas Mariz – e guardo na memória momentos inesquecíveis de minha adolescência, a exemplo da inauguração do Museu Osmar de Aquino, em Guarabira, quando dormimos na praça a espera do evento.
Quando Sérgio casou com França, irmã de Nonato Bandeira, fiquei mais próximo de Washington e não posso esquecer-me da visita de Luis Carlos Prestes a João Pessoa e da juventude brizolista que o ajudei a organizar.
Hoje me contaram que o amigo Washington vai lançar um livro na próxima sexta justamente sobre os 32 anos da Anistia e anestesiado pelas boas lembranças parei em frente à tela do computador para voltar no tempo e escrever sobre o que ta guardado com muito cuidado nas prateleiras da memória.
“Anos de chumbo e anistia: Senhora Liberdade” é o nome do livro e fiquei sabendo que o evento acontecerá lá no Sebo Cultural de Heriberto Coelho – que começou comprando o sebo de Washington – a partir das 17hs30m da próxima sexta com direito a revival sonoro da época e tudo(panfleto abaixo).
Calistrato, assina prefácio do livro com o seguinte depoimento:
Com o codinome “Torres” fui combatente da ALN, organização revolucionária fundada e dirigida pelo grande Comandante Carlos Marighella. E continuo o combate, porque Marighella vive e a ALN continua. Meu amigo Washington Rocha colocou-me como personagem real dentro desta sua peça dramática. Isso foi possível por se tratar de uma ficção com respaldo histórico, ainda que construa alguns personagens mais simbólicos do que verossímeis. A narração, empolgante, é também nostálgica. Foram “os anos de chumbo”, aos quais doei a minha juventude e os meus ideais. Porém, revendo-me, vejo que continuo o mesmo, por inteiro: como vivi, como pensei e como lutei – José Calistrato Cardoso Filho
Vez por outra eu me encontro com o “cabo” Washington lá no Pão de Açúcar 24 horas do Retão e ele vai logo me encabulando dizendo ser meu fã, que lê o blog três vezes por dia e coisa tal.
Hoje eu quero dizer aqui que ele foi uma pessoa muito importante na minha formação política, ética e pessoal.
Aprendi com você Washington Rocha o real significado da palavra liberdade.
E livre sempre serei.
Em tempo: peço a quem tiver que mande fotos desses dois caras pra mim.