A relação entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o vice-presidente, Hamilton Mourão, vive a pior fase desde o começo da gestão do presidente da República. A avaliação é de assessores presidenciais, que enxergam um “clima de conspiração” no entorno do presidente e do vice, principalmente sobre a arquitetura de um eventual impeachment.
Esses interlocutores do governo avaliam que Bolsonaro vem aproveitando declarações públicas para sinalizar que, em 2022, terá outro candidato a vice-presidente e, por isso, acreditam que Mourão passou a externar a irritação por não participar mais do governo, mas sem patrocinar uma ameaça de impeachment. A revelação do site O Antagonista de que um assessor de Mourão estaria sondando deputados para tratar do impeachment reforçou as teorias bolsonaristas de que o vice trabalha para derrubar o presidente.
Dois dos filhos do presidente alimentam essas teorias, a exemplo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), que já fizeram críticas públicas a Mourão. O vice, por sua vez, já ironizou o Eduardo publicamente quando o parlamentar arrumou mais uma confusão diplomática com a China.
Sem clima
Na avaliação de líderes partidários, hoje não existe clima político no Congresso para o impeachment. O tema ainda tem como principal patrocinador a oposição e, por isso, o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebate críticas de que não abriu um processo apesar dos vários pedidos que tem sob sua mesa. Na avaliação de Maia, mesmo se abrisse, sem apelo popular e maioria no Congresso, Bolsonaro correria o risco de se fortalecer após o processo, como aconteceu com Donald Trump nos Estados Unidos.
Um experiente presidente de partido do Centrão costuma repetir que “ninguém tira presidente com 30%, 40% de aprovação e sem gente na rua”. E que Bolsonaro, hoje, se rendeu ao sistema político exatamente para sobreviver politicamente, mesmo que isso signifique abandonar suas bandeiras de campanha, como faz ao firmar um casamento com o Centrão.
Ocorre que líderes desses partidos, de forma reservada, costumam repetir também que um novo agravamento da pandemia pode “causar uma comoção maior do que a política”. E, aí, entre Bolsonaro e suas próprias sobrevivências, os deputados optariam pela segunda opção.
G1