Todos estamos cansados da insegurança pública, isso é fato. Mas isso não quer dizer que essa situação se torne desculpa para tratarmos o nosso próximo de forma desumana. Infelizmente, a “justiça com as próprias mãos” está ficando cada dia mais comum – em parte porque estamos cansados de tanta violência, mas em outra porque muitos de nós carregam em sua essência a violência e querem pagá-la na mesma moeda. Na última quarta-feira essa teoria ficou comprovada, após o confronto entre policiais militares da Paraíba e de Pernambuco com acusados de formarem uma organização criminosa.
Mais do que flagrante de uma chacina, os corpos amontoados no chão são cenas de uma guerra que já estamos vivendo e ainda não caiu a ficha. Não culpo os policiais, mas me preocupo com o incentivo à barbárie travestido de discurso resoluto de gente como Jair Bolsonaro e sua argumentação de que bandido bom é bandido morto.
A jornalista Verônica Guerra, da equipe do sistema Correio, causou polêmica ao expressar seu pesar, durante o programa Balanço Geral, ao tratamento dado aos corpos pelos agentes. A imprudência da tropa e a espetacularização do desfile de cadáveres nesse episódio me faz concordar em gênero, número e grau com minha colega.
Se os acusados já estavam mortos, por que tratá-los daquela forma? Por que expor suas famílias em uma situação tão degradante e humilhante? Se pararmos para pensar, Verônica só demonstrou sua opinião como se fosse família de um ser humano que poderia ter errado sim – ninguém está dizendo o contrário -, mas que o erro não se torna desculpa para o “linchamento”, para a “justiça com as próprias mãos”. Imagine a guerra em que estaríamos se a “vingança” fosse tida como legal. Quantas pessoas não morreriam por desentendimentos frívolos no dia a dia? Começaríamos matando alguém que matou nosso irmão, por exemplo, e terminaríamos assassinando o vizinho por causa do som alto.
Desta forma, venho a público hipotecar a minha solidariedade à amiga de batente, lamentando profundamente a guinada o posicionamento do Sistema Correio de Comunicação, que outrora foi uma tribuna do povo e hoje capitula perdendo o viés popular.
Da redação