Após o escândalo do vazamento de áudios machistas de Arthur do Val (Podemos-SP) sobre refugiadas ucranianas, o ex-juiz Sergio Moro tratou de tomar distância do aliado para proteger sua pré-candidatura à Presidência da República. Perdeu, com o episódio, um palanque em São Paulo, mas também o amplo alcance digital do deputado, conhecido como Mamãe Falei, que vinha lhe sendo bem útil.
Algumas horas após o vazamento dos quatro áudios do deputado, Moro emitiu nota repudiando as declarações e afirmando que “o tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto”. Atestou que “jamais dividirá palanque” com alguém que se comporte dessa forma.
Talvez ele quisesse dizer “continuar dividindo palanque”, pois Mamãe Falei era o seu candidato ao governo de São Paulo, o que garantiria a Moro um palanque com alguém que teve bom desempenho na eleição passada.
O deputado estadual surpreendeu no pleito municipal de 2020, ficando em quinto lugar na disputa, com 9,78%, usando basicamente a sua força e a do MBL, grupo do qual faz parte, nas redes sociais. Quase ultrapassou Celso Russomanno (Republicanos), ficando 0,72% atrás, e terminando à frente de nomes como Jilmar Tatto (PT), Joyce Hasselman (PSL) e Andrea Matarazzo (PSD).
Dois dias antes dos áudios se tornarem públicos, Moro saudou a viagem de Arthur, seu correligionário, à Ucrânia para ajudar na resistência. “É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática”, afirmou o ex-ministro de Bolsonaro no Twitter.
Em 18 de fevereiro, Sergio Moro cobrava de institutos de pesquisa que incluíssem o nome de Arthur do Val para testar o desempenho de seu palanque. “A XP/IPESPE deveria repetir a pesquisa para o Governo de São Paulo já que omitiu na consulta o nome de Arthur Do Val para Governador, justamente o nosso candidato. A pesquisa perde relevância sem o nome de um forte concorrente ao Palácio dos Bandeirantes”, tuitou.
Após o impacto do vazamento dos áudios, Mamãe Falei retirou sua pré-candidatura neste sábado (5).
A força digital de Mamãe Falei e do MBL também vinha sendo fundamental para ajudar o ex-juiz ganhar tração nas redes. Agora, com o escândalo e o afastamento, a vida de Moro que já estava complicada, ganha contagem regressiva. Na última quarta (2), a pesquisa PoderData apontou Moro numericamente em quarto lugar com 6% das intenções de voto, atrás de Lula (40%), Bolsonaro (32%) e Ciro (7%).
Devido à margem de erro de dois pontos, ele está tecnicamente empatado com o ex-governador do Ceará, mas também com o governador gaúcho Eduardo Leite (3%) e, no limite, com o governador paulista João Doria (2%). Com a entrada de Leite no levantamento, o ex-juiz perdeu três pontos.