Lembro-me, como se fosse hoje, que em uma noite de viola enluarada Pedro Osmar profetizou que o cardápio da Aliança Democrática em João Pessoa seria indigesto.
Aniversário do Valentina de Figueredo, palco montado, praça lotada, Orquestra Sinfônica tocando pra massa uma fusão do erudito com o popular, bem absorvido pelo povão.
O governador era Wilson Braga e Raimundo Nonato era quem cuidava da cultura, apesar de Luís Augusto Crispim ser o presidente da FUNESC.
Carlos Mangueira era o poderoso secretário da Administração e cuidava do Valentina como uma joia rara, agregando o que podia para pavimentar o seu caminho até a prefeitura da Capital.
Na plateia, e misturados aos moradores, estavam Braga, Mangueira, Crispim e Raimundo. De sorriso de orelha a orelha, ouviram os aplausos do bairro para a Sinfônica e Marília Moreno anunciando a próxima atração, Jaguaribe Carne.
Antes de falar quem eram os músicos, que Braga achou-os logo de cara esquisitos, preciso dizer que para contrapor o estilo erudito e hermético de Burity, Braga queria nossa Orquestra nas ruas.
Marília leu os nomes dos integrantes – Pedro Osmar, Paulo Ró, Jorge Negão e Chico Cesar – e eles começam a apresentação cantando que “mistura de cabra com carneiro vai dá bode”.
Não tinha acompanhamento instrumental padrão. Era Paulo Ró tocando um tarol e a única frase da letra sendo repetida à exaustão durante os 10 minutos mais longos da vida de Braga.
Para quem não alcançou, lembro que naquele ano MDB e PFL se uniram no Brasil todo na eleição indireta deTancredo e Sarney, e que em João Pessoa lançaram a chapa Carneiro Arnaud e Cabral Batista.
Voltei esse tempo todo em nossa história política para dizer que essa insistência de Cícero em votar em um João, que por ele não quer ser votado, tem que ser resetada para evitar justamente que a mistura de cabra com carneiro dê bode, pois é um cardápio que deixa todo mundo de orelha em pé.
Dércio Alcântara