O presidente Lula (PT) discursou, nesta terça-feira (19), na abertura da 78ª Assembleia-Geral da ONU. Em sua fala, ele disse que “aventureiros de extrema direita” surgem dos “escombros do neoliberalismo”, além de tecer críticas à desigualdade social no mundo. Lula cobrou “vontade política” dos países ricos em solucionar o problema e ressaltou sua volta à Presidência “graças à democracia”.
O que Lula disse?
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir o neoliberalismo por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.
Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo. Se hoje eu retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia do meu país.
O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. O Brasil está de volta.
A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor.
Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz. Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras. É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças. Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino. A este caso se somam a persistência da crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.
Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas. A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância.
Reconstrução diplomática
A fala marca a reestreia de Lula na abertura da Assembleia-Geral depois de 14 anos.
O Itamaraty tem buscado retomar posições tradicionais da diplomacia brasileira, reconstruindo pontes que foram abaladas após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e colocar o país como protagonista da política internacional.
A gestão de Lula também busca se recolocar como negociadores de conflitos em busca da paz. Essa estratégia tem sido seguida no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia e nas relações entre EUA e China.
Agenda na ONU
Amanhã, Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vão se reunir pela primeira vez depois de meses de negociação. O ucraniano deve voltar a pedir ao Brasil uma pressão contra os russos, e Lula deve manter o posicionamento histórico do Itamaraty de uma saída pacífica para o conflito.
Lula também se reúne com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, e o presidente do Paraguai, Santiago Peña.
Fazem parte da comitiva do presidente brasileiro os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o assessor especial da Presidência Celso Amorim e a primeira-dama, Janja da Silva.
Redação com UOL