Em uma série de vídeos divulgados em redes sociais em meados de 2019, o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, atacou servidores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e acusou servidores públicos de “trabalharem pouco” e “destruírem o Brasil”. Os vídeos foram divulgados depois que a obra de construção de uma das lojas do empresário no município de Rio Grande (RS) foi suspensa a partir da localização de 20 fragmentos de cerâmica indígena e louças do século 19, conforme revelado neste sábado (18).
Na última quarta-feira (15), durante um discurso para empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o presidente Jair Bolsonaro disse que “ripou” [cortou] funcionários do Iphan por terem apontado os problemas na obra de Hang, um de seus maiores apoiadores no País. Logo depois das reclamações de Hang, a construção foi retomada com autorização do Iphan.
A loja em Rio Grande foi inaugurada em julho deste ano. Num dos vídeos gravados na época da paralisação, durante uma entrevista no aeroporto da cidade, Hang culpou servidores públicos por supostamente “destruírem” o país.
“Então eu vim aqui [Rio Grande] para realmente ver o que está acontecendo. Nós temos pressa. Lamentavelmente as pessoas que trabalham no governo não têm pressa nenhuma com o cidadão. Nós, da iniciativa privada, visamos sempre atender bem o nosso cliente. Quem é o cliente do governo? Somos nós. Eles ganham dinheiro dos nossos impostos, da iniciativa privada, do cidadão. Agora não têm pressa nenhuma. Se precisar demorar mais 15 dias, mais 30 dias, mais um mês, estão empregado [sic], ganhando muito, trabalham pouco, se aposentam cedo e destroem o Brasil. É esse… a realidade brasileira tem que falar a verdade, botar o dedo na ferida senão esse país não vai nunca encontrar o caminho do desenvolvimento”, disse Hang.
Em outro vídeo, Hang disse que no dia seguinte estaria em Rio Grande para saber sobre a paralisação da obra. Ele atacou os servidores públicos do Iphan, dizendo que eles ficam com “pernas esticadas” para cima, com “dinheiro no bolso” e “praia”.
Em um terceiro vídeo, Hang apresentou fotografias dos pedaços de cerâmica encontrados no terreno de sua obra. Ele disse que “até pode ser de um índio”, mas ironizou citando uma loja de cerâmicas de Santa Catarina.
O presidente da Anesp (Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental), Pedro Pontual, assistiu aos vídeos de Hang e disse que, “assim como o cidadão cumpre a legislação ao pagar seus impostos, o servidor público também é obrigado a seguir a legislação”.
Na rede social Twitter, Hang afirmou que a questão da sua loja era “notícia velha e requentada” e que ele protestou contra a paralisação da obra em 2019. “Só não foi mais tempo [parada] porque coloquei a ‘boca no trombone’, como sempre faço com esses absurdos. Temos 168 lojas, não fazem ideia das asneiras que já presenciei. Leis sem pé nem cabeça, tudo precisa de um carimbo, um alvará, uma licença… um verdadeiro calvário”, concluiu.