Em carta aberta divulgada neste domingo (21), um grupo com mais de 180 economistas e empresários, incluindo ex-ministros, sugeriram que as autoridades brasileiras acatassem medidas mais severas para conter a propagação da Covid-19 no país, como a adoção de lockdown em todo o território nacional.
Intitulado “País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo”, o documento foi assinado pelos ex-ministros da Fazenda Marcilio Marques Moreira, Pedro Malan, Mailson da Nóbrega e Rubem Ricupero, além de ex-presidentes do Banco Central, como Afonso Celso Pastore, Arminio Fraga, Gustavo Loyola, Ilan Goldfajn e Pérsio Arida, dentre outros, abrangendo diversas gerações de economistas, pessoas da academia, do mercado financeiro e ex-membros de governos diversos.
No texto, os especialistas afirmam que o governo “subutiliza ou utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia” e sugerem, dentre outras coisas, a adoção de um lockdown nacional. Segundo calculado por eles, a redução do nível da atividade custa menos ao Brasil do que o atraso na vacinação.
De acordo com os economistas, “o efeito devastador da pandemia sobre a economia tornou evidente a precariedade do nosso sistema de proteção social” e, além do auxílio emergencial, “não devemos adiar mais o encaminhamento de uma reforma no sistema de proteção social, visando aprimorar a atual rede de assistência social e prover seguro aos informais”.
Na carta, os signatários ressalta que “a experiência internacional com programas de aval público para financiamento privado voltado para pequenos empreendedores durante um choque negativo foi bem-sucedida na manutenção de emprego, gerando um benefício líquido positivo à sociedade”.
Dentre as medidas sugeridas pelo grupo estão:
1. Acelerar o ritmo da vacinação, usando a política externa para apoiar a obtenção de vacinas, seja nos grandes países produtores, seja nos que têm ou terão excedentes em breve.
2. Incentivar o uso de máscaras, tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa. O Brasil poderia distribuir máscaras à população de baixa renda, explicando a importância do seu uso na prevenção da transmissão da Covid. Considerando o público do auxílio emergencial, de 68 milhões de pessoas, por exemplo, e cinco reusos da máscara, tal como recomenda o Center for Disease Control do EUA, chegaríamos a um custo mensal de R$ 1 bilhão. Isto é, 2% do gasto estimado mensal com o auxílio emergencial.
3. Implementar medidas de distanciamento social no âmbito local, com coordenação nacional. As decisões devem ser de responsabilidade das autoridades locais. É urgente que os diferentes níveis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo critérios para a sua adoção.
O fechamento de escolas no Brasil atingiu de forma mais dura as crianças mais pobres e suas mães. Portanto, as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em um esquema de distanciamento social.
4. Criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional – preferencialmente pelo Ministério da Saúde e, na sua ausência, por consórcio de governadores – orientada por uma comissão de cientistas e especialistas.
“O desdenho à ciência, o apelo a tratamentos sem evidência de eficácia, o estímulo à aglomeração, e o flerte com o movimento antivacina, caracterizou a liderança política maior no país. Essa postura reforça normas antissociais, dificulta a adesão da população a comportamentos responsáveis, amplia o número de infectados e de óbitos, aumenta custos em que o país incorre”.
Leia a carta na íntegra neste link.
As informações são de Merval Pereira para O GLOBO.