Uma reportagem publicada pelo portal T5 nessa quarta-feira (18) deu destaque à uma denúncia anônima acolhida pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), na qual foi apontado que o arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, estaria ciente de todos os desvios de verbas que aconteciam no Hospital Padre Zé, no Instituto São José e na Ação Social Arquidiocesana.
A “Operação Indignus”, deflagrada pelo MPPB, investiga o escândalo de fraudes e desvios de recursos nas instituições. Documentos que o Portal T5 teve acesso indicam que os crimes, supostamente liderados pelo padre Egídio de Carvalho, ocorriam há 12 anos.
“O arcebispo da Paraíba é ciente, que por sinal já recebeu um veículo Jeep Compass 2019 (Placa QSF-6748) como pagamento de propina”, diz o documento.
A assessoria da Arquidiocese da Paraíba afirmou à reportagem que o arcebispo já havia confirmado, em entrevista coletiva no dia 10 de outubro, que não estava ciente dos desvios ocorridos no Hospital Padre Zé e nas duas outras instituições investigadas. Questionada sobre o veículo, a assessoria não respondeu. O Portal T5 tentou entrevistar novamente Dom Manoel Delson, mas o pedido não foi aceito.
Nosso Blog consultou uma fonte de alta relevância na Arquidiocese, a mesma de quando fizemos com exclusividade as denúncias contra o então Arcebispo Dom Aldo Pagotto e um grupo de dez padres envolvidos com pedofilia e outros desvios de conduta, e ela garantiu que Dom Delson “é um homem honesto e que jamais se envolveria com essa roubalheira. O que faltou nele foi pulso para frear o padre Egídio”.
Também tivemos acesso a informações exclusivas que apontam o envolvimento de gente graúda de fora da igreja.
“Existem outros como o padre Egídio usando a igreja e a batina para locupletação”, finalizou a fonte.
Entenda o caso
No último dia 7 de agosto, o padre Egídio de Carvalho denunciou o furto de mais de 100 celulares à Polícia Civil, que instaurou um inquérito policial a fim de apurar o crime. Samuel Rodrigues Cunha Segundo, ex-funcionário do setor de tecnologia do hospital, foi acusado pelo crime.
Em maio, entre os dias 22 e 26, Egídio foi a Foz do Iguaçu acompanhado de Samuel Segundo receber os celulares destinados à doação. Na oportunidade, foram separados os itens mais caros das duas instituições em 15 caixas lacradas. O religioso indica que a falta dos aparelhos só foi percebida por ele dois meses depois, no dia 24 de julho. Em 1º de agosto, o bazar aconteceu sem os aparelhos eletrônicos.
Uma denúncia anônima, enviada ao Ministério Público no dia 24 de agosto, provocou uma reviravolta no caso. O relato enviado ao órgão expõe 33 documentos e notas que comprovariam toda a suposta corrupção cometida pelo padre Egídio, quando dirigente do hospital. O envio desses materiais ocorreu 17 dias após a denúncia do padre sobre o desaparecimento dos celulares.
No início de setembro, Samuel chegou a ser preso pela Polícia Civil, sendo solto três dias depois. Ele foi demitido do hospital por justa causa.
Segundo a denúncia anônima, o furto de celulares aconteceu a mando do padre Egídio.
“O roubo foi feito a mando dele, de celulares e perfumes, para custear as despesas de aquisição de um novo imóvel e a reforma de um novo apartamento de luxo adquirido. Quando tomou conhecimento da proporção que tomou dentro da empresa, de comentários por todos os funcionários, por ser uma carga de alto, teve que abrir um inquérito. Sua família [de padre Egídio] tem lojas em cidade do interior de PE, onde pode ter sido levado a carga”, diz o documento.
De posse do material enviado anonimamente, o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) montou a operação “Indignus”, no dia 5 de outubro. Além do padre Egídio de Carvalho Neto, são investigadas duas ex-funcionárias do Hospital Padre Zé, Jannyne Dantas e Amanda Duarte, ex-tesoureira.
Um dia depois da operação, o padre Egídio se apresentou na sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), em João Pessoa.
O advogado Sheyner Asfóra, responsável pela defesa do padre Egídio, declarou que o religioso continua à disposição do Ministério Público para prestar esclarecimentos de forma oficial. O Portal T5 não conseguiu contato com a defesa dos outros investigados.
Em entrevista coletiva convocada por Dom Manoel Delson no dia 10 de outubro, o arcebispo afirmou estar envergonhado e disse ter se sentido traído pelo padre Egídio.
O líder da Igreja Católica na Paraíba ainda declarou que o patrimônio identificado no nome do padre Egídio é “assombroso”, pois um sacerdote recebe aproximadamente três salários mínimos por mês. “Isso nos entristece muito. É uma questão muito grave, porque um sacerdote deve servir aos mais pobres”, pontuou.
O caso continua em investigação.
Redação com Portal T5