O governador João Azevêdo concedeu nesta sexta-feira (17) uma entrevista ao programa 360 graus onde tirou diversas dúvidas e detalhou as ações do governo do Estado no combate ao coronavírus na Paraíba. Confira os principais assuntos abordados tópico a tópico ou ouça ao final da matéria a entrevista completa:
Atraso na folha de pagamento
O primeiro assunto tratado foi um dos mais questionados durante a semana. O Estado corre o risco de atrasar o pagamento dos salários dos servidores públicos devido a, de um lado, o aumento dos gastos e, do outro, a diminuição drástica na arrecadação de tributos? Veja a resposta:
“O estado nesse momento tem uma queda na receita, nós estamos fazendo uma verdadeira guerra para ter o controle das finanças. Não há nenhuma previsão nesse momento de que vá atrasar salários de funcionários. Sabemos claramente que vamos passar por momentos difíceis, mas não temos essa perspectiva ainda. Sei que abril e maio vamos pagar tranquilo. Eu espero que a gente continue tendo o apoio do Congresso no sentido de ter transferência de recursos, pois isso é fundamental nesse momento”, disse.
Mudança de ministro da Saúde
Outro assunto que movimentou todo o país – e consequentemente a gestão da crise pandêmica – foi a saída de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. Um dos poucos ministros elogiados na gestão do presidente Jair Bolsonaro, Mandetta informou na quinta-feira (16) que recebeu de Bolsonaro o seu aviso de exoneração da pasta, que já vinha há um tempo sendo prometida. O governador comentou a troca pelo oncologista Nelson Teich. Confira:
“Primeiro é importante entender que essa é uma prerrogativa do presidente da República. Entretanto, fazer essa mudança nesse momento é muito preocupante. Já tínhamos toda uma equipe que já vinha num ritmo para o enfrentamento do vírus. Algumas pessoas ainda não se deram conta do tamanho do problema que estamos vivenciando. Esse é um vírus que não tem remédio, que não tem vacina, não tem tratamento. Nesse momento o melhor tratamento é o isolamento social. Eu torço para o próximo ministro que entre mantenha essa política, pois o nosso sus pode colapsar caso tenhamos uma contaminação acelerada.
Precisamos receber testes, recursos, respiradores. Nós tivemos que comprar direto da China através do Consórcio Nordeste. Compramos 310 mil testes com rescursos do Estado. Que cheguem testes para ampliar o número de testagens na população e definir um perfil de onde temos contaminação”, apontou.
Testagem em massa
Assim que assumiu o Ministério da Saúde, Teich foi questionado sobre a testagem em massa da população brasileira. Ele disse que isso era o ideal que acontecesse. Mas será que é possível? João respondeu:
“A notícia que nós temos é que o Ministério tenha adquirido 5 milhões de testes rápidos para serem distribuídos no Brasil. E eu volto a dizer: os testes que recebemos aqui foram 9.600 testes, que foram distribuídos para os municípios.
No dia 24, estará chegando 20 mil testes à Paraíba. Mas não teremos como testar toda a população. A testagem será feita em que apresentar sintomas. É assim que a gente vai poder traçar o perfil e onde o vírus está circulando.
Nós estamos implantando barreiras sanitárias nas diversas rodovias federais que vêm de outros estados, que trazem o vírus na própria estrutura do caminhão, muitas vezes. Faremos a desinfecção desses transportes para poder entrar no Estado. O desafio é fazer com que o número de pessoas infectadas não seja muito alto em determinado momento.
Pra poder o serviço de Saúde suportar. Nós preparamos um plano: estamos preparando 426 leitos de UTI, quase mil leitos de enfermarias. Na Paraíba, temos 25% dos leitos ocupados. O Hospital Santa Paula vai ter 150 leitos. Em Patos, serão abertos mais 20 leitos de UTI e 20 de enfermaria. Meu sonho é que não precisássemos usar esses leitos, mas o fato é que ainda estamos subindo a ladeira da contaminação”, afirmou.
Medida de isolamento preventivo
Para muitos – inclusive o próprio presidente do país -, o isolamento é uma medida radical. Alguns até defendem que de nada vai amenizar os efeitos da contaminação do vírus. Mas o governador – e diversos pesquisadores e cientistas – discordam. Vários países, como a Espanha e a Itália, agiram tardiamente e os resultados falam por si só.
“Nós fomos taxados de exagerados, que estávamos sendo radicais demais
e os números hoje comprovam que estávamos certos: países como EUA que você tem a economia mais forte do mundo, tudo fechado e pessoas morrendo nas ruas. Imagine se tivermos um colapso da Saúde no Brasil.
A gente agiu na hora certa, no dia 13 de março. Fecha as aulas e evita a aglomeração pra poder a gente enfrentar e preparar a estrutura que precisaríamos em breve. Pra você poder enfrentar isso [a pandemia], a gente tem que ter a estrutura pra dar a resposta”.
Testes locais e estrutura
Inicialmente, o material coletado dos pacientes com sintomas do coronavírus era enviado para Belém do Pará. “Hoje, o Lacen (Laboratório localizada em João Pessoa) já tem estrutura para fazer 120 testes por dia. Fizemos parceria com a UFPB, onde também está pronto um laboratório para fazer 120 testes por dia. O mais importante: nós não temos fila. Em São Paulo, tem 15 mil na fila.
Em primeiro lugar, cuidamos da parte de testes. O teste mais complexo precisa ir para o laboratório e leva 24h para sair o resultado. É esse teste que já está pronto para ser feito localmente. Criamos uma infraestrutura para o teste. Começamos a implantar as unidades que precisavam de enfermaria, de UTI. Agora estamos ampliando para testes rápidos.
Levamos 15-20 dias dias para montar o hospital de campanha no Metropolitano com 130 leitos já disponíveis a partir desta segunda-feira. Agora, ainda estamos precisando de várias coisas para estarmos de fato preparados para essa guerra. Uma das nossas maiores dificuldades, no entanto, se chama respirador.
O mundo inteiro está querendo comprar e só quem fabrica é a China. Estamos aguardando chegar 60 respiradores e mandamos reparar outros 42 que estavam quebrados para nos preparar para quando o Estado atingir o pico. O governo está tomando todas as medidas que a população precisa. Agora, a população precisa fazer a parte dela”, pediu.
Reabertura do comércio
A exemplo do prefeito de Campina Grande, que quer reabrir o comércio para evitar perdas econômicas, outras gestões municipais também ainda insistem em menosprezar as recomendações de entidades internacionais de Saúde, cuja prioridade é a de salvar vidas. Veja a opinião do gestor paraibano:
“Nós estamos num momento em que o gestor não pode ceder a pressões desse grupo econômico ou daquele grupo político Você tem que tomar decisões baseadas em estudos científicos.
O número de pacientes vai subir numa escala muito grande. Se hoje temos 195 casos, daqui a 7 dias nós vamos ter na Paraíba mais de 500 casos. Abrir o comércio nesse momento em que estamos subindo a ladeira do contágio está fora de questionamento”, defendeu.
Modelo Trump
João questionou declarações que tem ouvido ultimamente sobre a reabertura do comércio nos Estados Unidos. Declarações vindas de pessoas que, segundo ele, não procuraram saber detalhes do assunto. Entenda:
“Trump permitiu a reabertura do comércio somente em algumas situações. Tem um ‘desde que’ que as pessoas fingem que não existe. As possibilidades são 1) em municípios que já tivessem atingido o ponto máximo de contaminação 2) se todas as instalações previstas já estivessem implantadas 3) distribuição de instrumentos de profissionais da Saúde 4) testagens para saber que as contaminações estão caindo. A prefeitura de Campina já cumpriu todos esses requisitos? Não. Como é que, se não tem condições, se vai abrir o comércio da cidade?”, disparou.
Uso obrigatório de máscaras
Uma medida que já havia sido adiantada nessa semana é o projeto de autoria do governo do Estado que prevê a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos. “Agora a gente vai fazer a nossa parte. Eu já autorizei a compra de um milhão de máscaras de diversos locais da Paraíba. Estamos nos preparando mas também gerando emprego na Paraíba. A máscara é fundamental para estar em espaços públicos”, disse.
Gira Mundo: estudantes fora do Brasil
Questionado sobre os estudantes que estão participando do intercâmbio dentro do Projeto Gira Mundo, o gestor estadual informou que alguns já voltaram e outro estão voltando.
“Nós temos grupos hoje que estão na Argentina, na Inglaterra, no Canadá, em vários lugares. Estamos trazendo todos os alunos de volta. Essa semana virão todos que estão na Argentina. Eu fiz questão de entrar no grupo de whatsapp pra acompanhar de perto a situação individual de cada um deles e, graças a Deus, não tem nenhum contaminado”, contou.
Linha de crédito para classe empresarial
“É excelente a ideia. Eu particularmente encaminhei à presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e estou aguardando que o BNDES se posicione no sentido de abrir uma linha de crédito para isso. Além disso, existem dois projetos que estão sendo votados dentro do Congresso. Aqui no Estado, nós estabelecemos que todas as empresas que tenham a opção pelo Simples Nacional, o pagamento do ICMS de abril e maio não precisa ser feito”, lembrou.
Pedido final
Diversas vezes durante a entrevista, o governador reiterou o pedido primordial para passar por essa crise epidemiológica mundial: empatia. “Usem máscaras, fiquem em casa o máximo que puderem, só saiam se for urgente. Façam isso por vocês, pelos seus familiares e pelo próximo”.
Por Marayane Ribeiro