Trabalhávamos naquela trincheira que atendia pelo nome de Jornal A Tribuna, eu, Walter Galvão, Altimar Pimentel e Verônica Correia. Estávamos sob a escuridão do governo Burity II e todo dia tinha um oficial de justiça na redação para notificar um de nós. Nossos patrôes eram Carlos Roberto de Oliveira, Raimundo Nonato e Chico Evangelista e o trunfo era paus!
Para escapar da ira do governador, criei uma coluna sobre turismo e, sem sair de João Pessoa, viajei pelo mundo tudo.
Como era o mais jovem do grupo, cobria as greves e a movimentação política no Palácio da Redenção, o que me botava na comissão de frente e obrigado a esbarrar naquele olhar de ódio de Burity contra o nosso jornal.
Foi no dia que noticiei que os dirigentes da AMPEP criaram uma quadrilha junina para alimentar a greve, que já durava noventa dias, que atrai definitivamente a ira de Burity contra mim e a partir daí passei a ser perseguido até pela P2, que um dia encurralou a mim e ao fotógrafo Ortilo ali perto da Bica e quase levamos uma surra.
A partir dessa notoriedade indesejada, não consegui mais me esconder e todo dia tinha um oficial de justiça querendo me notificar na redação, mas sempre era salvo pela lábia do meu editor Barbosinha, saudosa figura, que sempre argumentava que eu era colunista de turismo e estava em viagem de trabalho.
Mas, pergunta o leitor, o porquê da ira de Burity contra mim?
Na matéria sobre a greve dos professores, noticiei que o movimento iria ensaiar uma quadrilha que se chamaria “a quadrilha da quadrilha do Palácio da Redenção”, conforme escrito nos cartazes, e na mesma página apareceu uma foto legenda de uma mansão que supostamente uma construtora estaria construindo por “generosidade” para o governador lá em Camboinha.
Apesar de eu não ter editado a página, quem lia a matéria assinada por mim ligava uma coisa a outra.
A nota lamentável desse episódio é que os mesmos caras que comandavam aquelas passeatas contra o governo Burity II hoje estão no governo Ricardo Coutinho e tratam com a mesma truculência os movimentos sociais.
Antes que eu me esqueça, também movem dezenas de processo contra mim, pois o mundo gira e quem era estilingue hoje é vidraça.
E nós da imprensa não podemos deixar de noticiar o descaso com a coisa pública e acabamos virando a palmatória do mundo. Contabilizando muitos processos, é claro.
Fazer o que? Cada um nasce com uma missão e, como escreveu Belchior e cantou Elis Regina,’ eles venceram e o sinal está fechado pra nós”.