O inimigo nada oculto movimenta-se atropelando pontuações. Acha-se invisível e pensa ser um algodão entre cristais, quando na verdade é um hipopótamo querendo usar sapatilhas de bailarina.
Geraldo Vandré em sua genialidade lançou em plena ditadura uma música que dizia “marinheiro, marinheiro, quero ver você no mar, eu também sou marinheiro, eu também sei governar. Madeira de dá em doido vai descer até quebrar..é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dá…”.
Para um bom entendedor, poucas palavras. Para alguém que se faz de surdo às vezes se faz necessário convocar a bateria do Olodum.
Eu vou ao cinema, ele apaga a luz e desliga o projetor; vou comer pizza, ele demite o pizaiollo; peço um BigMac, ele despacha um cachorro quente. Frio.
Se ligo a TV ele faz todo mundo ficar de luto; sintonizo rádio em onda médias, ele surfa em ondas curtas; “sem falar que todo jornal que eu leio me diz que a gente já era…”.
Por favor, não me peçam para revelar quem é esse obstáculo instransponível a me atormentar, que eu não digo.
Ele é um inimigo nada oculto, mas pode se transformar dialeticamente em um amigo explicito.
A vida é uma roda gigante de um parquinho de diversões decadente. Tem dia que gira, tem dia que pira. Mas sempre cobra ingresso.
Aventureiro e obtuso, meu inimigo oculto pensa em tudo como se tivesse direito adquirido naquele banco da praça e eu fosse descartável como aquele personagem do filme Caminho das Nuvens, deixado numa obra pelo caminho após sentar tantos tijolos.
Emblematicamente, saiba que eu prefiro as curvas da estrada de Santos a ficar sentado no meu apartamento esperando um contracheque chegar.
Aviso aos navegantes: que tal somar?