A jornalista Vera Magalhães virou alvo de ataque público por simpatizantes de Jair Bolsonaro desde que publicou a mensagem de WhatsApp do presidente com um vídeo convocando para uma manifestação contra o Congresso Nacional. A jornalista afirma que dados pessoais vêm sendo expostos desde a publicação da matéria com a denúncia.
Na manhã desta quinta, Vera publicou uma declaração concedida em 2018 por Bolsonaro sobre eventual fechamento do Congresso, na qual ele escreveu: “‘Se caísse uma bomba H no Parlamento, pode ter certeza, haveria festa no Brasil’, escreveu a jornalista no blog BRPolítico.
Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) reagiu, sugerindo que há um abismo entre a “bolha” em que vive a jornalista e a “população em geral”, e escreveu: “Se houvesse uma bomba H no Congresso você realmente acha que o povo choraria? Ou você só faz isso para tentar criar atrito entre o Presidente e o Congresso?”. Vera respondeu que jogar uma bomba no Congresso seria um “ato terrorista” e que, “se o povo não se preocupar com isso, a democracia acabará”.
Vera, todavia, não é a primeira – nem a última – a enfrentar ataques de bolsonaristas ao se posicionar contra declarações e ações do presidente.
A jornalista Rachel Sheherazade, do SBT, diz ter sido ameaçada de morte após criticar Jair Bolsonaro e seus seguidores. “Campanhas difamatórias, ataques em massa, ameaças de morte, ameaças contra meus filhos têm sido uma rotina desde que ousei criticar o então candidato Jair Bolsonaro, ainda no episódio da greve dos caminhoneiros em 2018”, contou a âncora do SBT Brasil.
Ex-presidente do STF diz que Bolsonaro é coautor dos ataques
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto disse que o presidente Jair Bolsonaro age como coautor da mensagem contra o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal), ao compartilhar o vídeo de apoio às manifestações marcadas para o dia 15 de março.
Em entrevista ao UOL, o ministro aposentado afirmou que, sob o prisma jurídico, Bolsonaro assumiu uma espécie de paternidade do material.
“Quando o presidente repassou pela internet a matéria, pelo cargo dele, presidente da República, ele assumiu a coautoria da mensagem. É uma espécie de paternidade compartilhada. Foi um endosso”, disse o constitucionalista.
Ele também afirmou que o presidente não tem competência jurídica para convocar o ato contra os dois poderes. Ayres Britto cita o artigo 84 da Constituição, que lista as competências do presidente.
“Não há essa previsão. Ele tem outras competências, até mais contundentes, como convocar o conselho da república, o de defesa nacional, decretar um estado de sítio. Mas esse tipo de mensagem não faz parte das competências explícitas de um presidente. Estranhei esse aval”, afirma.