A polêmica a respeito da volta do ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, ao PT divide os petistas paraibanos. No grupo dos que são contrários a filiação está o deputado estadual Anísio Maia, que concedeu entrevista nesta quarta-feira (11) ao programa 360 graus, onde elencou alguns motivos pelos quais não quer o retorno do político, dentre eles, o perfil autoritário de Coutinho em impor sua chapa e, o principal deles: ele dificultaria a formação do palanque de Lula no Estado, que deve disputar a eleição presidencial em 2022.
“O PT é um partido que não tem dono”, enfatiza Maia, justificando que a legenda preza pela democracia interna, por isso a filiação de Ricardo é tão debatida entre os correligionários. Mesmo sem ter seu retorno acertado, o ex-governador já tentou ditar sua chapa para o próximo pleito eleitoral, atitude que vai contra as diretrizes do Partido dos Trabalhadores. O deputado explica que as candidaturas passam por um processo para serem aprovadas, são questionadas e debatidas entre os membros.
“Não sabe como é que o PT funciona. É do tempo ainda que estava num partido que mandava em tudo aí acha que no PT também é assim. Já vieram dizendo a chapa”, alfineta Anísio, que revelou ainda um documento encaminhado pela executiva nacional do partido avisando aos diretórios estaduais que as discussões das táticas eleitorais para as eleições do ano que vem só devem ser iniciadas em setembro.
O deputado exterioriza uma frase do ofício encaminhado, que diz: “A Comissão Executiva Nacional orienta os diretórios estaduais a não aprovar resoluções a cerca da estratégia eleitoral, definição de candidaturas ou coligações. Isso tudo vai ser discutido em setembro”.
Por esse perfil autoritário, de nem chegar e já determinar suas articulações políticas, atropelando o processo natural do PT, Anísio acredita que a filiação de Ricardo seja inoportuna. Segundo o parlamentar, sequer o ex-governador revelou as razões pelas quais ele e o seu grupo querem migrar para a sigla, frisando ainda que o Partido dos Trabalhadores não é um “bazar”.
Outro possível retorno cogitado nos bastidores da política paraibana é o do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, que na semana passada esteve reunido com a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann. Se mostrando mais complacente, o petista diz que quem quiser se filiar ao partido deve conversar com os filiados para mostrar suas intenções de ingressar no grupo. Contudo, afirma que Cartaxo foi em busca apenas de apoio eleitoral.
“Quem quiser entrar no partido que discuta com os filiados, que explique as suas intenções, ouça o que os filiados tem a dizer e depois o partido decide. Eu defendo isso para qualquer uma pessoa. Mas com respeito a Luciano Cartaxo, ele ontem deu uma declaração dizendo que queria se manter no PV, procurou o partido mais como aliado. Lógico, isso é uma coisa que a pessoa diz hoje e amanhã pode mudar de ideia. A política é uma coisa muito dinâmica. Tanto que tem pessoas que atacavam o PT e hoje já estão achando o PT muito bonito, muito bacana, é normal da política”, pontuou o parlamentar estadual.
Orientado a priorizar a campanha eleitoral de Lula à presidência da República, a volta de Ricardo dificultaria ainda a obtenção de aliados paraibanos, principalmente, o apoio do maior eleitor do Estado: o governador João Azevêdo, que por diversas vezes já demonstrou sua simpatia pela nova candidatura do ex-presidente.
“Eu me preocupo com o palanque do presidente Lula na Paraíba. Todas as orientações do diretório nacional do partido é para ampliar o palanque, para o palanque não ficar restrito apenas aos partidos de esquerda. Que é natural, nós só ganhamos a eleição se a gente ampliar nossos horizontes além da esquerda. Nós vamos ter um embate muito difícil, porque eu acho que Lula no momento está muito bem mas esse povo que apoia Bolsonaro, e até a direita brasileira, ela não vai descansar enquanto não conseguir um obstáculo para criar problema para a candidatura de Lula e até, se possível, barrar”, pontuou o deputado.
Anísio Maia comenta que a candidatura de Lula deve ser construída com muito cuidado em todos os Estados brasileiros, para conseguir uma política de alianças bastante forte, com uma frente ampla, principalmente no Nordeste, para que a região consiga um volume expressivo de votos a fim de compensar uma possível falta de adesão de outras localidades.
“Para Lula não basta ganhar aqui com 50%+1. Nós temos que ganhar aqui com muito mais de 50%, tirar uma grande vantagem no Nordeste. Por isso nós temos que ter um palanque ampliado. E no palanque ampliado você tem que ter pessoas apropriadas para conquistar esse palanque, tem pessoas que dificultam e tem pessoas que são atrativas. No caso da pessoa que estamos citando (Ricardo Coutinho) dificulta o palanque ampliado. Vocês se lembram que na última eleição que ele foi candidato não conseguiu nenhum partido aliado, ficou só. Então é isso que a gente quer para a campanha de Lula? Não, nós queremos juntar muitos partidos, principalmente os progressistas de esquerda, e também muitas personalidades”, reforçou.
Entre as pessoas que os petistas querem cativar para o lado de Lula, estão aquelas que tenham capacidade de diálogo, que não tenham atritos, com uma grande possibilidade de atração de eleitores, perfil do atual governador paraibano. Para Maia, a executiva nacional do PT não desconhece os atrativos positivos de João Azevêdo e não está desprezando as sinalizações do gestor. No momento adequado, as articulações políticas serão definidas, deixando escapar a existência de tratativas entre as partes.
“Tudo tem um momento certo. Trata-se de um governador, não é uma pessoa qualquer. Então eu fico bem tranquilo quanto a isso porque, na hora certa, isso tudo vai ser tratado da melhor forma possível”, sustentou o deputado estadual.
Sobre sua opinião a respeito da filiação de Ricardo Coutinho, Anísio Maia é firme. “Acho inconveniente a filiação. Acho que deveria ser evitada. Também não acho que deve se estigmatizar o ex-governador, estar atacando, nada disso. Ele não deixa de ser uma liderança ainda importante mas deveria procurar o canto melhor para ajudar o presidente Lula”, completou.
Assista à entrevista completa: