Estudávamos no Colégio União eu, Luís Henrique, Cristiano Machado, Eduardo e Roberto Trevas. Fazíamos o segundo ano científico e tínhamos dois professores que tocavam fogo na classe, Solon Benevides e Leucio.
O Colégio União era uma grife e ficava ali naquele anel externo da Lagoa, próximo ao Cassino, tinha dois laranjas como “donos”, mas o SNI, o DOPS e o S2 do Exército sabiam quem eram os verdadeiros donos: Antônio Augusto e Isa Arroxelas, “subversivos” perseguidos pela ditadura militar.
Logo, eles não queriam barulho que chamasse a atenção sobre o colégio, mas esqueceram de combinar com os russos. No caso, eu, Luis Henrique, Cristiano, Eduardo e Roberto.
O professor Leucio ministrava a disciplina de história e suas aulas eram nada convencionais, o que foi nos estimulando a pensar sobre a conjuntura brasileira.
Solon era mais sutil, pois, sobrinho de Humberto Lucena, herdou a moderação do MDB, onde militava como braço direito de Humberto.
DISFARÇADOS RONDANDO
O que Isa, Antônio Augusto, Solon e Leucio não sabiam era que nós iríamos, literalmente, tocar fogo no Colégio União numa semana que os Arroxelas voltaram aos radares dos órgãos de informação.
Criamos um jornal completamente revolucionário, tomamos de assalto o Centro Cívico e declaramos criado o primeiro Grêmio Livre da Paraíba, o que era proibido e controlado por um órgão chamado COMOCE.
Mais que isso, levamos para as salas de aula dos três turnos o debate sobre a realidade política do Brasil e a necessidade de derrubar a ditadura, como a dizer as pessoas que viviam numa Matrix.
Paramos geral e convocamos eleições diretas para o Grêmio. Como bons esquerdistas, rachamos o grupo e eu saí candidato por uma chapa e Cristiano por outra, PT x MDB.
O professor Leucio era petista e militantes da Libelu; Solon era MDB humbertista. Cada um escolheu seu lado natural.
Abertas as urnas eu venci no nosso turno da manhã, venci no da tarde, mas levei uma lapada no turno da noite, onde tenho certeza que fui surrupiado.
Na apuração, Solon, tentando me consolar, disse que eu era Mariz, que na primeira eleição direta pra governador ganhou na Capital mas perdeu no interior para Wilson Braga.
Na sequência, como bom trotskista, convoquei uma greve geral denunciando fraude e Isa com os olhos de admiração e medo me pediu para deixar o colégio antes que Antônio Augusto fosse preso pela segunda vez pela ditadura, pois ainda estava na condição de subversivo que teve o mandato cassado junto com o pai de Cristiano, Jório Machado.
Cá pra nós, homens de preto estavam de olho no Colégio, disfarçados rondando ao redor. Óculos escuros e aquele estereótipo todo de pega, mata e come.
Assim fui às urnas como candidato pela primeira vez, para nunca mais. Ali decidi que seria um cara de bastidor, como sou hoje, jornalista e publicitário.
Dércio Alcântara