Assistir pela televisão a pré convulsão social que eclodiu no Brasil é uma coisa, caminhar no asfalto junto com as diversas tribos é outra. Ontem eu fui com minha esposa e filha exercer a cidadania, dizer não a corrupção e violência. Um sim a democracia.
Confesso que foi uma experiência confusa, como são confusas essas manifestações que se alastram e que a cada dia se tornam maiores.
Não vi ninguém liderando e todos ainda parecem estar conectados à rede social, uns observado os outros para curtidas e compartilhamentos.
Não há uma música contagiando, não há uma palavra de ordem uníssona, mas há fervor cívico, indignação, por enquanto, educada. O que Milton Nascimento chamou de ira santa na musica que Fafá de Belém cantou em homenagem a Teotônio Vilela.
E, convehamos, isso é um perigo. .Cheguei a comparar a passeata a uma cena clichê de algum filme de zumbis, pois pela falta de um líder guiando em um carro de som vagam a esmo de um lado para o outro até uma sinergia qualquer conectá-los em direção a algum lugar decidido na hora.
No entanto, percebi maturidade, determinação e foco. Esse movimento é uma onda que só quebra na praia e não adianta atalhar com quebra mares que ela vai pra onde se determinou ir e a vangarda jovem percebeu que a hora é agora para equacionar todas as demandas reprimidas.
Cada um quer a sua frustração resolvida e as ruas viraram um imenso consultório psicanalítico para uma terapia coletiva.
Não é especificamente contra ninguém, mas é explicitamente contra todos que geram as frustrações populares. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário estão em xeque. Ninguém escapa.
O problema é que com uma pauta tão ampla é quase impossível acertar o alvo. Mas talvez a idéia seja apenas avisar que chegou a hora de o Brasil se reciclar.
Algo tipo: se daqui pra Copa a coisa não mudar a onda volta maior, ganha as ruas, estraga a festa e desemboca nas urnas.
E para um bom entendor poucas palavras bastam. Viva o choque de democracia!