Grupos de direita e de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) do Telegram têm tentado maquiar e moderar falas violentas de seus participantes contra a esquerda, em meio ao embate da Justiça contra comunidades virtuais e o aplicativo de mensagens no Brasil.
Casos de agressão como o ocorrido à caravana do ex-presidente Lula (PT), em Campinas (SP) no início de maio, chegam a ser comemorados e endossados nos grupos, mas ameaças diretas e promessas de agressão têm sido desestimuladas. Segundo especialista, a causa é o aumento da moderação no aplicativo, em especial às vésperas das eleições.
Em março, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), atendeu a um pedido da Polícia Federal de suspender o Telegram no Brasil. Na decisão, a Corte determinava uma série de mudanças, entre elas, a suspensão de dois canais bolsonaristas.
Revogada 48 horas depois porque as exigências foram atendidas, a decisão irritou Bolsonaro e seus apoiadores. O aplicativo de mensagens tem sido um dos principais redutos da extrema direita no mundo desde 2016 e, no Brasil, é muito popular entre bolsonaristas.
Na última terça (10), o aplicativo voltou a ser centro de polêmica com a suspensão do “B 38”, maior grupo não oficial de apoio ao presidente na plataforma. Com mais de 67 mil membros, o canal voltou a funcionar, reformulado, na última quinta (12).
Os embates legais e as tentativas de moderação têm feito com que os próprios organizadores dos grupos ou seus membros mais atuantes diminuíssem o tom.
“Toda essa movimentação que tá tendo em torno do Telegram, isso causa nos membros um cuidado muito grande. Em relação à hostilidade direcionada ao PT e ao Lula, acontece o tempo inteiro, mas agora há pedidos que as pessoas não digam que querem matar petistas, por exemplo, exatamente pelo monitoramento”, afirma Leonardo Nascimento, coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
O laboratório, que estuda o comportamento da extrema direita no Brasil por meio dos grupos no Telegram, tem acompanhado diversas discussões entre membros que estimulam atitudes violentas, muitas vezes armadas, e têm sido repreendidos. A principal preocupação, avalia Nascimento, é um possível monitoramento da Polícia Federal e de outras autoridades, como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), citado na imagem, embora não tenha esta função.
Atentos às moderações, influenciadores e usuários têm usado codinomes ou trocas de letras para evitar as buscas e tentar burlar a moderação, que eles chamam de “censura”.
Vacina se torna “picada” e vacinado, “inoculado”. STF é escrito com cifrão (“$TF”) e “atirando” ou “atirar”, com números (“atir4ndo” ou “atir4r”). Há também como deixar as palavras de cabeça para baixo para fugir do algoritmo.