Milton Ribeiro pediu exoneração do cargo de ministro da Educação hoje. A informação foi confirmada por fontes do Planalto ouvidas pela coluna de Carla Araújo para o UOL. A assessoria do MEC (Ministério da Educação) ainda não confirma oficialmente.
A saída acontece uma semana após a divulgação de um áudio em que ele afirma que o governo federal prioriza prefeituras ligadas a dois pastores. Sem cargos, os líderes religiosos atuam em um esquema informal de liberação de verbas do MEC (Ministério da Educação), segundo reportagem da Folha de S. Paulo. “Foi um pedido especial que o Presidente da República [Jair Bolsonaro] fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar [Santos]”, diz Ribeiro no áudio.
Antes da divulgação da conversa, o jornal O Estado de S. Paulo havia revelado que a dupla de pastores lidera um gabinete paralelo no MEC.
Ribeiro é o quarto ministro da Educação da gestão Jair Bolsonaro (PL). Ele assumiu em julho de 2020.
A Polícia Federal abriu inquérito na semana passada para investigar a ação dos pastores junto ao MEC. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o Supremo Tribunal Federal também autorizou a abertura de apuração.
Segundo acusações de prefeitos e pessoas ligadas à educação, os pastores evangélicos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia conquistaram acesso privilegiado ao governo Jair Bolsonaro. Mesmo sem cargo na máquina pública, eles passaram a atuar informalmente e tiveram acesso ao MEC.
A dupla lidava com verbas bilionárias da pasta, parte delas concentradas no FNDE, que tem grande dominância do Centrão. Reportagem do UOL mostrou que na gestão de Ribeiro municípios sem alianças políticas tiveram dificuldade para conseguir verba no fundo.
“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro em áudio.
De acordo com relatos feitos por gestores e assessores, os pastores negociam a liberação de recursos às prefeituras em restaurantes e hoteis de Brasília, e depois entram em contato com o ministro. O chefe do MEC, então, determina ao FNDE a oficialização do empenho, reservando o recurso.
Ao jornal o Estado de S. Paulo, o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), disse que o pastor Arilton solicitou R$ 15 mil antecipados para protocolar as demandas da cidade. O líder evangélico também teria pedido o pagamento de 1 kg de ouro após a liberação dos recursos para construção de escolas e creches.
Depois da repercussão, Ribeiro negou que Bolsonaro tenha pedido atendimento preferencial. “[Ele] solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem”, afirmou, em nota. Em entrevistas, o ministro disse que já havia solicitado investigação sobre a ação dos líderes religiosos.
O UOL também apurou que a cidade de Centro Novo (MA) conseguiu a liberação de R$ 300 mil relacionados a uma obra de R$ 3 milhões aprovada no início deste ano. O prefeito Junior Garimpeiro foi responsável por organizar um encontro de prefeitos do estado do Maranhão com o ministro da Educação —em discurso, na ocasião, Ribeiro disse que foi o pastor Arilton Moura que “insistiu” para que ele “desse atenção” ao estado. O pastor Gilmar também esteve presente.
Nas redes sociais, o pastor Gilmar afirmou serem falsas as notícias sobre sua participação como intermediador na liberação de verbas do MEC para prefeituras. Arilton Moura não se manifestou.
UOL