Data que marca a luta das mulheres por direitos e equidade de gênero, o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de Março #8M, também é um bom momento para conscientizar a população sobre a saúde da população feminina, em especial sobre como prevenir problemas do coração. Infarto, hipertensão e derrame, por exemplo, estão entre as doenças que mais afetam o sistema cardiovascular das mulheres.
Para o pesquisador e cardiologista Valério Vasconcelos, até pouco tempo, havia o mito de que os problemas do coração eram próprios dos homens. Ele diz que a chegada das mulheres ao mercado de trabalho foi uma importante conquista social, mas com reflexos diretos no estilo de vida e, consequentemente, na saúde desse público, o que contribuiu para a elevada prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares.
“Esse fenômeno trouxe consequências diretas à saúde das mulheres, com aumento do risco de problemas cardíacos. Hoje a mulher acumula múltiplos papéis, tem dupla e até tripla jornada, ao se dividir entre trabalho, cuidado com filhos e afazeres domésticos. Isso eleva o estresse, associado, muitas vezes, ao sedentarismo, hábitos alimentares inadequados, tabagismo e consumo em excesso de bebidas alcoólicas”, explica o especialista.
“Somado a esses fatores, há um problema adicional: as mulheres jovens têm maior prevalência de doenças cardiovasculares do que os homens. A predominância dessas enfermidades é muito maior nas mulheres entre 15 e 49 anos, e as mortes por doenças isquêmicas vêm aumentando, como o infarto do miocárdio, nas mais jovens”, acrescenta Valério Vasconcelos.
Mulheres resistem a cuidar do coração com regularidade
De cada dez mortes no Brasil por problemas do coração, quatro são de mulheres. “Há 50 anos, esse número não chegava a 10%. Um dos principais motivos é que elas resistem a cuidar do coração regularmente. Já há, tradicionalmente, uma rotina de realização de exames ginecológicos e de mama anualmente, mas quando o assunto é check-up cardiológico, a frequência é bem menor”, comenta o cardiologista Valério Vasconcelos.
Em linhas gerais, lembra o especialista, a mulher deve ir ao cardiologista aos 40 anos. “Mas dependendo da presença de fatores de risco e de sintomas de doenças cardiovasculares, essa ida pode ser antecipada”, afirma. Sobre os principais cuidados que as mulheres devem adotar para proteger o sistema cardiovascular, o cardiologista esclarece que é fundamental atacar os chamados fatores de risco modificáveis. São eles: tabagismo, colesterol alterado, hipertensão arterial, sedentarismo, sobrepeso ou obesidade, circunferência abdominal elevada, diabetes e alimentação inadequada.
Menopausa afeta o coração das mulheres
Se não bastassem os fatores de risco modificáveis que se tornam mais frequentes no cotidiano das mulheres, o risco de doenças cardiovasculares aumenta após os 40 anos de idade. E a situação exige ainda mais cuidados quando as mulheres passam dos 50 anos de idade e entram no climatério.
“Quando chega a época da menopausa, o risco de doenças do coração cresce ainda mais; há um aumento de 30% no número de casos de infarto e de cirurgias cardíacas em mulheres. Tudo isso ocorre devido à diminuição dos níveis de estrogênio, hormônio que tem como função dilatar as artérias e, por consequência, proteger o coração. Com essa baixa, as mulheres ficam até 30% mais suscetíveis a infartos durante o período da menopausa”, alerta o cardiologista Valério Vasconcelos.
O médico, que também é autor do livro “O coração gosta de coisas boas”, ressalta que é muito importante que a mulher procure um cardiologista desde o momento em que passou do estágio do climatério até parar de menstruar. “A partir daí, ela deve procurar um cardiologista e fazer os exames de rotina no mínimo uma vez por ano, porque as alterações hormonais aumentam o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, ainda mais se a mulher tiver histórico familiar”, destaca.