Um fundo global bilionário e governadores estaduais assinaram um acordo para atrair recursos para projetos ambientais na Amazônia, sem a interferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Neste sábado, o Consórcio Interestadual para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal assinou um Memorando de Entendimento com a Emergent, organização norte-americana que atua como coordenadora administrativa da Coalizão LEAF.
Mas movimentos sociais e indígenas do Pará e outros estados alertam que o envio de dinheiro deve considerar critérios claros e pedem que haja um envolvimento de ativistas, comunidades e ambientalistas na captação de recursos. O temor é de que o fluxo se limite às autoridades, financiando apenas seus projetos.
O pacto foi fechado em Glasgow, às margens da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, e marca uma tendência entre atores internacionais de evitar o governo federal e sair em busca de aliados fora da gestão Bolsonaro. Com o acordo, fica aberta a possibilidade de transações entre os estados da Amazônia Legal e os participantes da LEAF.
A iniciativa ocorre dias depois que a Coalizão LEAF mobilizou US$ 1 bilhão para países e estados comprometidos em aumentar a ambição de proteger as florestas e reduzir o desmatamento. Além de recursos de economias desenvolvidas como EUA, Reino Unido e Noruega, o fundo conta com o aporte de empresas como BlackRock, Burberry, EY, Inditex, Intertek, SAP, Walmart.org, Amazon, Airbnb, Bayer, BCG, Delta Air Lines, E.ON, GSK, McKinsey, Nestlé, PwC, Salesforce e Unilever.
Além dos estados brasileiros, fecharam acordos com o fundo estrangeiro países como Costa Rica, Equador, Gana, Nepal e Vietnã. Oito dos nove estados da Amazônia já apresentaram propostas à LEAF e foram aprovadas em uma avaliação técnica inicial. Isso significa que se qualificaram para transações com potenciais compradores de créditos de carbono gerados a partir da redução de emissões.
Governadores da região comemoraram o acesso aos recursos. “A assinatura desse acordo representa um importante compromisso da Amazônia Legal com a segurança climática no mundo” disse Flávio Dino, presidente do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal e Governador do Maranhão. Helder Barbalho, governador do Pará que assinou o Memorando de Entendimento em nome do Consórcio Interestadual, indicou que o acordo é “uma demonstração evidente de que possuímos uma estratégia clara para a contribuição da Amazônia para o equilíbrio climático”.
Os britânicos também apontaram para a importância do novo acordo. “O acordo é um sinal bem-vindo de que o Consórcio Interestadual para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal compartilha a meta da Coalizão LEAF de alcançar reduções mensuráveis de desmatamento”, disse Maggie Charnley, diretora adjunta da UK International Climate Finance – Forests, Land Use and Carbon Markets.
De acordo com ela, o pacto também se baseia no compromisso do governo federal reverter o desmatamento até 2030. “Esperamos continuar a trabalhar com o Brasil em todos os níveis, inclusive através da Coalizão LEAF, para juntos alcançarmos esses objetivos”, disse. “Desde o seu lançamento na Cúpula dos Líderes da Casa Branca sobre o Clima em abril, a Coalizão LEAF está demonstrando a escala e colaboração necessárias para combater a crise climática e dar uma contribuição significativa para atingir emissões líquidas zero a nível global até 2050”, disse John Kerry, Enviado Especial do Presidente dos EUA para o Clima.
“A Coalizão já superou sua meta de mobilizar recursos governamentais e do setor privado para apoiar ações em larga escala de redução do desmatamento e restauração das florestas tropicais e subtropicais. As contribuições se somam à tomada de medidas urgentes dos participantes da Coalizão em cortar suas próprias emissões”, completou.