Após Bolsonaro afirmar que vai pedir abertura de processo no Senado contra ministros do Supremo Tribunal Federal, neste sábado (14), grupos bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram e nas redes sociais intensificaram a convocação para o tal “último recado” do presidente no dia 7 de setembro.
Essa expressão havia sido usada por ele, em 3 de agosto, para ameaçar o Tribunal Superior Eleitoral após a abertura de inquérito pela corte devido às suas denúncias de fraudes nas eleições sem apresentar provas e às ameaças contra o pleito do ano que vem caso o voto impresso não fosse aprovado.
A convocatória de manifestações de apoio ao presidente quer aproveitar a presença de militares nas ruas devido aos desfiles – será o 199º aniversário do Dia da Independência. As convocatórias estão circulando entre militares, policiais, ruralistas e bolsonaristas-raiz, entre outros grupos.
O chamado traz um discurso que inverte a responsabilidade pelo golpismo. Apesar de o presidente da República estar atacando membros dos Poderes Judiciário e Legislativo visando às eleições do ano e para encobrir denúncias de corrupção, 570 mil mortes por covid-19 e 14,8 milhões de desempregados, há convocatórias bolsonaristas pedindo às Forças Armadas que impeçam o STF, o TSE e o Congresso de agirem fora de suas competências.
Entre os vídeos que a coluna teve acesso, há ameaças de impedir a circulação em rodovias e avenidas, bem como de gerar desabastecimento como forma de protesto.
Mesmo que o “último recado” reúna seus seguidores mais fiéis, a multidão será apenas uma sombra do que já foi o apoio ao presidente antes das crises sanitária e econômica provocadas pela pandemia. E, claro, antes da revelação de corrupção na compra de vacina e dos tomaladacás com o centrão em troca de sua proteção diante de 132 pedidos de impeachment.
Quando falou no “último recado”, o presidente disse que estaria atendendo ao “povo”. Contudo, pelos números da última pesquisa do Datafolha, a parcela dos brasileiros que concorda totalmente com tudo o que ele diz é de 15% da população, número que está longe de representar a maioria.
O presidente tem tentado confundir a pluralidade da população brasileira, seja ela de direita ou de esquerda, aos 15% que o apoiam cegamente. Quer mostrar que inquéritos contra ele são um ataque ao povo. E que o povo está ao seu lado quando, na verdade, o povo está preocupado em sobreviver porque o governo o abandonou.
Com Leonardo Sakamoto do UOL.