Para que o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, não atendesse à convocação do ministro da Defesa, Braga Netto, de comparecer ao desfile da Marinha para entrega de um convite ao presidente Jair Bolsonaro, o Alto Comando da Força considerou a hipótese do militar pedir demissão do cargo.
Na área militar, não atender a convocação de um superior é um ato de indisciplina e, para evitar a infração, Paulo Sérgio deveria pedir sua demissão. Na reunião acontecida nessa segunda-feira (9), integrantes do Alto Comando se disseram “envergonhados” e “indignados” com o desfile da Marinha, expressando desagrado com a tentativa presidencial de intimidar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal usando as Forças Armadas.
Presente no encontro, por ser presidente do Alto Comando, Paulo Sérgio ouviu todas as críticas proferidas pelos militares, que apesar de não citarem a demissão, deixaram explícito o descontentamento com a participação do comandante no evento realizado no Planalto. Ao fim da conversa, ficou evidente que o general não estava disposto a renunciar.
Também foi convocado por Braga Netto o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, para estar ao lado de Bolsonaro no momento em que ele receberia o convite formal para assistir a Operação Formosa, o maior exercício militar da Marinha no Planalto Central, prevista para acontecer no próximo dia 16 com a participação, pela primeira vez, do Exército e da Aeronáutica.
Paulo Sérgio chegou ao comando do Exército em março, depois da crise militar deflagrada pela demissão sumária do ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, que acarretou na saída em massa dos três comandantes das Forças.
Dois meses depois, ele foi confrontado com a decisão de punir ou não o general da ativa Eduardo Pazuello pela quebra da regra militar que veda a participação de fardados em atos políticos (em maio, no Rio, o ex-ministro da Saúde discursou num caminhão de som ao lado de Bolsonaro numa manifestação em prol do ex-capitão). Paulo Sérgio preferiu atender o pedido de Bolsonaro e não puniu o general.
Na época, integrantes do Alto Comando consideraram que o comandante do Exército havia feito a sua opção diante das únicas alternativas que tinha: preservar o cargo ou perder a autoridade. As chances de recuperá-la ele perdeu agora.
Com informações de Thaís Oyama para o UOL.