Faleceu nesta sexta-feira (02), aos 102 anos, o fundador do Jornal Correio da Paraíba, empresário e ex-deputado federal Teotônio Neto. O óbito ocorreu no Rio de Janeiro. Não foram divulgadas a causa da morte nem informações sobre velório ou sepultamento.
Nascido em 28 de novembro de 1918, na cidade de Santana dos Garrotes, no Sertão da Paraíba, Francisco Teotônio Neto trabalhou na lavoura desde criança. Também foi vaqueiro, carregador de água para operários, tangedor de jumentos e bodegueiro. Ainda na cidade natal, estudou escrituração mercantil por correspondência e tirou o diploma de datilógrafo.
Já em João Pessoa, quando mudou-se para cursar o ginásio em 1941, trabalhou como balconista nas Lojas Paulistas paralelamente aos estudos. O talento no emprego o fez ser transferido para o departamento de vendas e, mais tarde, foi promovido a gerente.
Ainda em 1941, foi eleito presidente da Sociedade Literária Rui Barbosa, composta por alunos do instituto onde estudava. Seu discurso de posse foi assistido por representantes do interventor federal, Rui Carneiro, e do arcebispo metropolitano. Na sua administração, a sociedade adquiriu personalidade jurídica, realizaram-se assembleias literárias semanais e a biblioteca enriqueceu-se com mais de duzentas obras.
Depois disso, o padre Carlos Coelho chamou Teotônio para colaborar no jornal A Imprensa. Com o novo emprego, precisou trabalhar na Capital e no interior até que o órgão deixou de circular, por ter publicado uma nota crítica ao Governo do Estado. Desempregado, foi convidado para trabalhar na firma do comerciante Francisco Reis Lisboa Neto, passando a operar na área de seguros elementares e exportações.
Após o fechamento do instituto onde estudava, matriculou-se na Academia de Comércio, ficando lá por dois anos. Posteriormente, seus estudos foram realizados em cursos avulsos ou como autodidata, tendo estudado administração nos Estados Unidos.
Em 1944, ele fundou a firma Teotônio Neto, escritório de representações, consignações e conta própria, que dois anos depois se transformou em sociedade coletiva, a Teotônio Neto e Companhia, que atuava em diversos ramos, inclusive no de seguros.
Quando foi proibida a importação de trigo, iniciou os estudos para construir em Cabedelo o primeiro moinho de trigo do estado. Antes da inauguração do empreendimento, que aconteceria em 1955, Teotônio Neto fundou o jornal O Correio da Paraíba e, ainda na década de 1950, passou a dirigir as Organizações Teone, constituídas, além de sua firma e seu jornal, pela Editora Teone, a Livraria Teone, a Cabral Representações e a Ipuera Mineração.
Na agricultura, fundou em 1960 a Cooperativa Mista do Vale do Piancó, que serviu a dezenas de municípios do estado, prestando apoio financeiro a pequenos agricultores e explorando ainda, por conta própria, um grande plantio de agave e de oliveiras. Posteriormente, a cooperativa passaria a possuir uma usina própria de beneficiamento de algodão de Piancó.
Seu ingresso na política aconteceu em outubro de 1962, quando foi eleito deputado federal pela Paraíba pelo Partido Social Democrático (PSD), tendo sido o candidato mais votado no estado. Sua posse foi em fevereiro de 1963 e, após o movimento político-militar de 31 de março de 1964, com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação ao regime militar instalado no país em abril de 1964, em cuja legenda reelegeu-se no pleito de novembro de 1966.
Fundou a Rádio Correio da Paraíba em 1968 e, no ano seguinte, vendeu sua firma comercial e o moinho Cabedelo. Foi mais uma vez eleito, na legenda da Arena, no pleito de novembro de 1970. Nessa legislatura foi membro efetivo da Comissão de Relações Exteriores e suplente da Comissão de Segurança Nacional da Câmara, tendo sido também suplente da Mesa Diretora.
Em 1974, Teotônio Neto teve seu nome cogitado para assumir o Executivo paraibano, como sucessor de Ernani Sátiro (1971-1975). O escolhido, contudo, foi Ivan Bichara, empossado em março de 1975. Ainda na legenda da Arena, no pleito de novembro de 1974, reelegeu-se deputado federal, permanecendo nessa legislatura nas mesmas comissões em que participou na anterior.
Já em 1978, não foi reeleito, ficando apenas como segundo suplente de seu partido. Após encerrar o mandato em janeiro de 1979, deixou definitivamente a Câmara. Depois disso, até 1995, dedicou-se à uma fazenda de café localizada nas proximidades de Brasília, a qual vendeu nesse último ano para voltar à Paraíba. No estado, focou num projeto de implantação de um polo sericícola associado à produção de frutas para exportação no Vale do Piancó.
Ao lado do seu primo, Afonso Pereira da Silva, contribuiu, através da Fundação Padre Ibiapina, para a criação de diversas escolas em seu estado natal, dentre elas o Ginásio Santana, em Piancó, e a Escola de Comércio Euclides da Cunha, em Misericórdia. Foi ainda dirigente de indústrias de base, bancos, financeiras e seguradoras, além de pecuarista em Goiás. Foi também diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro.