Quando recebi de uma fonte a documentação onde entre outras coisas graves consta o e-mail do desembargador Joás de Brito Filho em um processo numerado e protocolado, além de precedido por um ofício do secretário Walter Aguiar para que o secretário de Saúde, Waldson Sousa, tomasse as devidas providências, percebi aqui que as vísceras da relação perigosa entre Executivo e Judiciário estavam expostas.
Ali estava em minha frente a prova viva de que a meritocracia da Nova Paraíba é uma balela e que o governo RC também faz tudo na base do “é dando que se recebe”.
Já na segunda página uma senhora de Itabaiana que trabalhou no governo Cássio é recomendada como alguém que merece voltar à máquina. Uns choram a demissão, outros voltam pela chancela dos padrinhos.
Quem está neste momento com o processo nas mãos sabe do que eu estou falando. Tudo gira em torno de pedidos de correligionários de Cássio e ao final quem oferece o parecer é a ex-esposa do suplente de deputado estadual Hervázio Bezerra, diretora daquela secretaria de Saúde.
Vem mais uma página e lá está um senhor sendo recomendado por um padrinho e também por ter trabalhado no governo Cássio.
Mais uma página e lá está o primeiro grande choque. O conselheiro Nominando Diniz é citado e anotado pela caligrafia inconfundível do governador como alguém que recomendou aquela nomeação.
Passo outra folha e me deparo com o e-mail do desembargador para o governador. Detalhe: ele foi escolhido por Cássio para o cargo vitalício, apesar de Odon Bezerra ser o mais votado da lista numa eleição direta entre os advogados.
“Caro governador, conforme nossa conversa de sábado, estou lhe enviando os dados da minha esposa. Os dados do meu cunhado já foram enviados diretamente por ele.
Nome: Ana Lúcia Alencar Pereira
Matrícula: 87001-3
Cargo: Técnico de Nível Médio
Curso de Psicologia no UNIPE
Tem gratificação de atividade especial por está atuando como psicóloga no setor de diabéticos do IPEP. O setor está funcionando muito bem e são pessoas base humildes que procuram o setor.
“Forte abraço.”
Antes de denunciarmos o que convencionamos chamar de “tráfico de influência” e, como vou argumentar mais adiante, oferecemos ao desembargador Joás e ao governador Ricardo a chance de se explicar paralelamente a publicação da denúncia neste blog, na coluna de Helder Moura, no Correio, e na coluna de Rubens Nóbrega, no Jornal da Paraíba.
O desembargador calou, o governador idem. Contra fatos não há argumentos. Apenas estratégias posteriores de dissuasão.
E agora vem o desembargador minimizar a importância da descoberta admitindo que conversou com o governador e até enviou o e-mail, mas que não há nada demais. Claro que há!
Ele admitiu o que não pode negar. O e-mail tem login e poderemos requisitar que a operadora de telefonia confirme ao pedir uma cópia. Se desmentisse cairia em contradição lá na frente.
O governador não respondeu por que sua intenção era essa mesma, desmoralizar o Judiciário, enfraquecer para conviver melhor e poder indicar um desembargador para a vaga que poderá ser aberta caso o desembargador continue com essa argumentação inconsistente.
Se ele admitiu hoje no Jornal da Paraíba que conversou com o governador e que pediu para que a esposa e o cunhado fossem mantidos em seus lugares, a partir de agora é réu confesso da prática de tráfico de influência, pois fica claro que ele tinha informações privilegiadas sobre a demissão de comissionados e usou o cargo para proteger os seus interesses, os empregos da esposa e do cunhado.
Grave não seria só se fosse confirmado o pedido de emprego. Manter o que foi conseguido lá atrás também é. E isso não importa em que governo, pois não pode um desembargador pedir favores que lá na frente serão cobrados em escambo.
Que isenção terá esse desembargador ao julgar uma questão que envolva o Governo?
Por exemplo, quando votou pela ilegalidade da greve da PM o fez com isenção ou estava contaminado pelos favores do governador, com quem dialoga sobre a gestão e troca e-mails?
Não tenho nada contra o desembargador e quando denunciei aqui neste blog o seu envolvimento neste processo que me foi repassado por uma fonte, o fiz medindo as consequências.
Sei que ele só tem 49 anos e que na Justiça o corporativismo impera, como também em outras áreas, inclusive no jornalismo, mas prefiro tê-lo como inimigo ou desafeto magoadíssimo nos próximos 21 anos do que ir dormir com a consciência pesada por não ter denunciado esse conluio.
Do Tribunal espero o que todos esperam. Que haja celeridade, isenção e punição. Caso contrário, será este segmento que arcará coletivamente com a desconfiança de quem acompanha atentamente os fatos.
Aproveito a oportunidade para apelar que façam um exame grafotécnico para saber de quem são as caligrafias ao longo do processo.
Adianto-me e digo que a que numera o processo é de Julinho, chefe de gabinete do secretário de Saúde.
Já a do contracheque da secretária de Nominado no TCE, Iana Parente, pertence inconfundivelmente ao governador Ricardo Coutinho.
Aguardemos o desenrolar das investigações e as providências. Desde já parabenizo o desembargador Joás por ter requerido o que é óbvio ululante: a investigação e o transcorrer sem o segredo de Justiça.