Se uma palavra sintetizar essa década, intolerância será a escolhida. Nunca fomos todos tão intolerantes uns com os outros. Se uma atitude sintetizar a vingança extravagante, “morização” será sinônimo de escárnio.
Não posso concordar com a intolerância e a “morização” praticada ontem e hoje pelo empresário Eduardo Carlos contra o jornalista Fabiano Gomes.
Passou do ponto a superexposição de uma sentença que deveria ter ficado em juízo, pois ainda transita em julgado e cabe recurso.
Fabiano é acusado de cometer os crimes de injúria, calúnia e difamação contra o empresário e familiares e, poderia sim, numa primeira fase do processo, até ter pedido desculpas que, independente de Eduardo aceitar, o processo seria extinto, como manda a Lei. Mas não quis e deixou correr.
Ontem, a divulgação desproporcional do que ainda não transitou, em pleno horário nobre, ganhou contornos de “morização”, numa referência a atitude precipitada do juiz Sérgio Moro, que divulgou desnecessária e ilegalmente um grampo de conversas entre o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma, sendo repreendido e tendo que pedir desculpas ao STF.
A querela entre Fabiano e Eduardo não é notícia do interesse coletivo e o JPB da noite foi usado em interesse pessoal, não era jornalismo, o que a Globo proíbe, do mesmo jeito que o Jornal da Paraíba ter trazido em manchete intermediária na dobra da página também denota estabanamento empresarial.
Divulgar uma decisão que cabe recurso e anunciar que Fabiano corre risco de prisão, o que o empresário deixa claro querer quando ingressa com várias ações criminais e festeja a quebra da primariedade, fere o princípio de que todo mundo é inocente até que se prove ao contrario e como o processo ainda transita em julgado, Fabiano não foi condenado, como antecipa o Sistema Paraíba.
A sanha dos poderosos contra jornalistas tem preocupado toda a sociedade e instituições internacionais de defesa da liberdade de imprensa e acende o debate num ambiente de convulsão política.
Sem entrar na análise do mérito, quem tem e quem não tem razão, venho aqui ponderar para o extrapolamento da linha ética e editorial do próprio Sistema Paraíba, exclusivamente para atender o ego do empresário Eduardo Carlos, que age com o fígado, quando deveria agir com mais responsabilidade e fleuma.
Se Fabiano teria errado quando emitiu opinião desqualificando moralmente Eduardo, sua família e suas empresas, o kaiser do Sistema Paraíba escorregou e teria incorrido no mesmo erro agora ao condenar quem ainda é inocente.
A Imprensa não pode substituir o Judiciário e o Judiciário não pode substituir a Imprensa. Cada um tem seu papel e a intolerância não pode contaminar a todos.
Vamos separar os homens dos meninos.