O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de João Pessoa foi acionado para uma ocorrência de que um carro teria caído dentro da Lagoa do Parque Solon de Lucena e cinco pessoas estariam feridas, porém, ao chegar ao local, foi constatado que tudo não passava de um trote.
Essa é apenas uma das cerca de 15.140 ocorrências inverídicas direcionadas mensalmente ao órgão que, somente de janeiro a julho deste ano, registrou 105.980 trotes. No caso da Lagoa, além do Samu, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros ainda foram direcionados ao local.
Segundo dados informados pela assessoria de comunicação do Samu, os trotes recebidos equivalem a uma média de duas ligações a cada cinco minutos e são ocorrências que diminuem em um mês, mas continuam em outro, apresentando sempre uma linha de acréscimos de caso. Isso é reflexo, segundo o órgão, de uma cultura de despreocupação com o serviço, que acaba por ser prejudicado por conta dessa desatenção.
Do total de ligações recebidas pelo Samu mensalmente, aproximadamente 48 mil, a maior parte, o equivalente a 39%, são trotes. Outras 21% das ligações são canceladas antes mesmo de serem atendidas; 12% das ocorrências são de socorro e 11% são colocadas em espera porque equipes estão em ocorrência no momento. Empatando, as ligações duplas e as ligações interrompidas representam 6% das ligações recebidas. Além destas, 3% das ligações são engano enquanto que a remoção e a orientação representam 1%, cada.
Segundo o coordenador geral do Samu Regional João Pessoa, Marcos Ferreira, os horários de pico em que há mais registros de trotes são entre as 10 horas da manhã – quando se tem o ápice do número de trotes recebidos pelo Samu – e as 19h horas, tendo um declínio no período da noite. “O principal horário mesmo é durante o intervalo das escolas de manhã e à tarde, quando crianças aproveitam o momento para passar trote para o Samu”, disse.
Conforme Ferreira, esse horário reflete parcela da população que é responsável pelos trotes direcionados ao Samu: as crianças. Na sua opinião, a desatenção de pais com as crianças, dando a elas os celulares até mesmo dentro de casa de forma desregulada faz com que números de atendimento gratuitos, como o Samu, sejam discados, por vezes até de forma involuntária, ocupando as linhas que poderiam estar resolvendo problemas reais.
Para o órgão, a maior preocupação é saber que a população acaba reclamando do órgão quando não é atendida, o que, muitas vezes, só acontece porque as linhas estão ocupadas pelos trotes. “Esse é um grande problema porque as pessoas ocupam as linhas, impedindo que uma pessoa seja mesmo socorrida”, disse, informando que o órgão possui um sistema para bloquear números dos quais já se saiba de onde provêm os trotes, porém ele disse que isso não é utilizado. “Nós pensamos que se um dia essa pessoa que passa trote precisar do serviço de verdade, estará com seu número bloqueado. Nós lidamos com vidas, então não podemos fazer nada que possa interferir um socorro num momento de necessidade”, frisou.