Jornalistas demitidos do diário mineiro “Hoje em Dia” ocuparam na manhã desta quinta-feira o antigo prédio do jornal, que teria sido usado como ponte para pagamento de propina ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), de acordo com delação do empresário Joesley Batista. Os ex-funcionários reivindicam o pagamento do salário referente ao último mês trabalhado e seus direitos trabalhistas.
– Estamos na Justiça reivindicando a penhora desse prédio, para sua venda ser utilizada como forma de pagamento desses passivos trabalhistas – afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas, Kerison Lopes.
O grupo de trabalhadores chegou por volta de 6h no imóvel que estava fechado. Além dos jornalistas, gráficos e funcionários da administração demitidos do jornal também participaram da ação, que ainda contou com o apoio de movimentos sociais – como o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Levante Popular. Há uma extensa programação de debates e oficinas para o dia.
“Decidimos ocupar o prédio que foi sede do jornal durante décadas para denunciar à toda sociedade o calote. Fomos vítimas de uma negociata política que envolve figurões da República e pagamos a conta por projetos de poder, falta de ética e escrúpulos”, diz o manifesto divulgado pelos demitidos.
O empresário Joesley Batista revelou em seu depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que a J&F Investimentos pagou R$ 17 milhões pelo “predinho” – como chamou a sede do Hoje em Dia – um valor que ele mesmo considerou superfaturado. De acordo com Kerison Lopes, o imóvel agora está sendo vendido pela metade do preço.
– Em 2015, ele seguiu precisando de dinheiro, e eu acabei, através da compra de um prédio, não sei como lá em Belo Horizonte, por R$ 17 milhões, esse dinheiro chegou nas mãos dele. E depois no ano seguinte, em 2016… ele dizendo que esses R$ 17 milhões eram para pagar restos de campanha, e tal – afirmou Joesley em seu depoimento, apesar de nos registros constar que o valor de compra foi de R$ 18 milhões.
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, a venda do imóvel para a JBS apareceu durante ação movida contra o “Hoje em Dia” pelos 150 trabalhadores demitidos pela empresa – destes, 36 jornalistas – em fevereiro e março de 2016, sem que recebessem salários e direitos trabalhistas. A demissão aconteceu depois que o Grupo Bel vendeu o jornal para o então prefeito de Montes Claros, Rui Muniz.
O Ministério Público do Trabalho pediu a quebra de sigilos fiscal e bancário da J&F para descobrir para onde foi o dinheiro da compra do prédio.
“De todo modo, para realmente comprovar a destinação dos 18 milhões de reais, o 6º réu Flávio Jacques Carneiro poderia e deveria ter juntado cópia de documentos contábeis oficiais, tais como Livro Razão Analítico, Livro Caixa, Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, entre outros, referentes ao período em que foram pagas as parcelas desses 18 milhões de reais, ou seja, de setembro/2015 a fevereiro/2016, mas assim não o fez. Por quê? Portanto, não há outra alternativa senão buscar-se o paradeiro desses 18 milhões de reais, o que somente será possível por meio da quebra dos sigilos fiscais e bancários de todos os envolvidos, a começar da empresa J&F Empreendimentos S/A, de onde supostamente esse dinheiro originou-se, e, daí, segui-lo até sua atual localização”, justificou o procurador, Victório Álvaro Coutinho Rettori.
Fonte: O Globo