BRASÍLIA – Em vez de desatar o nó da reforma ministerial, as seis horas de conversa na segunda-feira com a presidente Dilma Rousseff serviram para esgarçar ainda mais a relação do Planalto com o PMDB. A expectativa do partido era que a presidente batesse o martelo sobre seu novo espaço no governo neste ano de reeleição, o que não aconteceu. E mais: Dilma não se mostrou disposta a atender as reivindicações dos peemedebistas, alegando que precisa acomodar outros aliados. O PMDB queria ampliar sua cota de cinco para seis ministérios.
Irritado, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), convocou uma reunião da bancada para esta quarata-feira, às 15h, e ameaça abrir mão dos ministérios do Turismo e da Agricultura, da cota dos deputados, o que significaria rompimento com o governo. Dilma vetou a presença de deputados na composição de seu novo Ministério. Alegou que não vai firmar compromisso com um parlamentar para que ele não dispute a reeleição, com a garantia de que permanecerá no cargo em caso de reeleição.
O motivo real seria, no entanto, que Dilma não quer aceitar indicações de Eduardo Cunha. Assim, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), nem chegaram a pôr na mesa os nomes dos deputados Leonardo Quintão (MG), Sandro Mabel (GO) e Eliseu Padilha (RS).
Vital é indicado para Portos
Como o pleito inicial do PMDB de pôr o senador Vital do Rêgo (PB) no Ministério da Integração Nacional tinha sido rejeitado anteriormente por Dilma, os peemedebistas ofereceram seu nome para a Secretaria dos Portos. A presidente surpreendeu, então, oferecendo Integração Nacional para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Consultado, ele não aceitou.
Eunício tem mandato no Senado até 2019 e é pré-candidato ao governo do Ceará. A oferta de Dilma tinha o objetivo de tirá-lo da disputa, para facilitar a aliança entre o PT e o PROS do governador Cid Gomes, e a formação de seu próprio palanque no estado. Cid vai lançar candidato contra Eunício.
Dilma abriu a reunião, na tarde de segunda, somente com Temer. Mais tarde foram chamados o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Por último, Henrique Alves e o novo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Do Planalto, o grupo foi para o Palácio do Jaburu, residência da vice-presidência. A eles se juntaram Eunício, Eduardo Cunha e o líder do PTB, senador Gim Argello (DF). O clima era de insatisfação. Os caciques do PMDB consideraram que a presidente “ficou brincando de negociar”. A irritação cresceu pelo fato de Dilma ter resolvido primeiro os ministérios do PT.
– Ela estressa a gente. Todo dia agora a gente faz reunião no Jaburu para ficar reclamando – disse um líder do PMDB.
O único que falou abertamente foi Eduardo Cunha:
– Foram seis horas de conversa ruim.
Com O GLOBO