Com o encerramento dos mandatos de dois terços dos senadores, os principais caciques do Senado vão às urnas em 2018 em um cenário adverso: terão de explicar ao eleitor as acusações das quais são alvo, propor saídas para a crise política e enfrentar menor disponibilidade de recursos para financiamento de suas campanhas.
Dos 54 senadores cujos mandatos chegam ao fim, 21 respondem a investigações no STF em ações da Lava Jato ou desdobramentos. Um deles é o do senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB).
Cássio na Lava Jato – Recentemente o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito sobre o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O paraibano é suspeito de receber R$ 800 mil em vantagens indevidas para favorecer a Odebrecht. As investigações foram pedidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com base nas delações premiadas de executivos e ex-executivos da Odebrecht.
Segundo o inquérito, as declarações de Alexandre José Lopes Barradas e Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis são de que a soma foi solicitada pelo senador paraibano, “então candidato ao governo do Estado da Paraíba, com a expectativa de receber futura contrapartida e de realizar obra de saneamento naquele Estado”.
Os R$ 800 mil teriam sido repassados através de um intermediário de nome “Luís”. Segue ainda o texto do pedido de abertura de inquérito relatando que “a operação, implementada pelo Setor de Operação Estruturadas do Grupo Odebrecht, não foi contabilizada e está indicada no sistema “Drousys”, com a identificação do beneficiário pelo apelido de ‘Prosador'”.
Além de Cássio, estão nomes de destaque na Casa como Renan Calheiros (MDB-AL), Romero Jucá (MDB-RR), Aécio Neves (PSDB-MG) e o presidente Eunício Oliveira (MDB-CE). Será a primeira eleição geral após o STF ter proibido o financiamento empresarial, em 2015, e depois de a classe política ter sido atingida pela Lava Jato.
Segundo colocado na corrida presidencial em 2014, Aécio agora enfrenta dificuldades para firmar sua candidatura à reeleição. O mineiro enfrentou forte desgaste em 2017 após ter sido gravado pelo empresário e delator Joesley Batista. Foi denunciado pelos crimes de obstrução de Justiça e corrupção passiva e afastado duas vezes do mandato pela Justiça.
Por meio de sua assessoria, o tucano não confirmou se disputará uma vaga no Senado, mas disse que, na avaliação de seu grupo político, “uma candidatura majoritária é o melhor caminho para que o senador possa responder às acusações de que é alvo e repor a verdade”.
DISTÂNCIA
Réu no STF por crime de peculato e alvo de inquéritos na Lava Jato, Renan passou a cuidar de sua reeleição desde o início de 2017. Ele se distanciou de Michel Temer e passou a fazer oposição a medidas como as reformas trabalhista e da Previdência. Senadores Renan Calheiros e Eunício Oliveira se reúnem na residência oficial do Senado, no Lago Sul, para almoço com José Sarney Além disso, intensificou as agendas no interior de Alagoas ao lado do governador, Renan Filho (MDB).
Investigados em inquéritos da Lava Jato ou desdobramentos devem concorrer à reeleição no Senado
Acre
Jorge Viana * (PT)
Alagoas
Benedito de Lira (PP)
Renan Calheiros (MDB)
Amazonas
Eduardo Braga (MDB)
Vanessa Grazziotin (PC do B)
Ceará
Eunício Oliveira (MDB)
Maranhão
Edison Lobão (MDB)
Minas Gerais
Aécio Neves (PSDB)
Zezé Perrella (MDB)
Pará
Jader Barbalho (MDB)
Paraíba
Cássio Cunha Lima ** (PSDB)
Pernambuco
Humberto Costa (PE)
Piauí
Ciro Nogueira (PP)
Paraná
Gleisi Hoffmann (PT)
Rio de Janeiro
Lindbergh Farias (PT)
Rio Grande do Norte
Garibaldi Alves (MDB)
Agripino Maia (DEM)
Rondônia
Valdir Raupp (MDB)
Roraima
Romero Jucá (MDB)
São Paulo
Aloysio Nunes (PSDB)
Marta Suplicy (MDB)
*Em nota, o senador afirma que seu caso não tem conexão com a Lava Jato por ter sido distribuído do ministro relator do caso, Edson Fachin, para o ministro Gilmar Mendes.
“Vamos comprovar na Justiça que nossas campanhas foram feitas dentro da lei. O caso agora está nas mãos do ministro Gilmar Mendes. Ele vai investigar as nossas prestações de contas. Teremos a oportunidade de esclarecer a legalidade do financiamento de nossas eleições. Jamais recebemos dinheiro de caixa dois”, diz o texto.
** Em nota, o senador afirma que seu caso não se trata de Lava Jato e que o inquérito não está mais com o ministro Edson Fachin, relator do caso no STF.
“Espero que até a eleição [a investigação] esteja encerrada e tudo ficará definitivamente esclarecido. Sou o único caso onde o próprio delator afirma que resisti a receber doação via caixa dois.”
Redação com Folha de São Paulo