Aquela voz mansa e educada de Lena Guimarães chegava nos recantos da Paraíba como estrondo de trovão toda vez que sentava em frente a máquina de escrever ou computador para formar opinião.
Lena nunca precisou subir o tom para se fazer entender. Econômica no falar, só abria a boca quando seu texto e suas ideias não tinham sido suficientes.
Terça da semana passada foi o aniversário dela e pela primeira vez na vida ela foi mais econômica na interação do que de costume e não agradeceu a ninguém a lembrança.
Foi a senha de que algo estava acontecendo com Lena e quem não estava a par do seu problema de saúde, um implacável câncer de pâncreas, começou a se preocupar com a ausência de voz de quem falava baixo e deixou de uma hora para outra de falar.
Lena finalmente se fez entender e a sinergia agora é etérea, telepática, uma conexão metafísica e parabólica.
Descanse em paz.
Dércio Alcântara