O ex-assessor Job Ribeiro Brandão informou à Polícia Federal que destruiu provas contra o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) e o irmão dele, o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Job, que está em prisão domiciliar, foi assessor parlamentar de Lúcio. Ele negocia um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Em depoimento na terça-feira, obtido pela revista Época, ele contou que destruiu documentos, agendas e anotações a mando de Geddel.
Ao delegado Marlon Cajado na Superintendência da Polícia Federal da Bahia, em Salvador, o ex-assessor contou que picotou papéis e os jogou na privada e descartou outros documentos no lixo.
Job foi preso em setembro após a Polícia Federal encontrar suas digitais no dinheiro – mais de R$ 51 milhões – encontrados em um apartamento em Salvador, usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Em outro depoimento à PF, ele contou que recebia dinheiro vivo de Geddel para contar na casa da mãe do ex-ministro. Segundo ele, as quantias variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil e que não sabia de onde vinham as cédulas.
O dinheiro em espécie, diz Job, ficava guardado no closet da mãe de Geddel, em caixas e malas até o início de 2016, quando o pai dele morreu. O ex-assessor disse que as malas e caixas eram que ficavam no closet eram semelhantes às encontradas pela Polícia Federal num apartamento transformado em bunker por Geddel.
A ordem do ex-ministro para destruir os documentos aconteceu logo após Geddel deixar a penitenciária da Papuda, em Brasília, no dia 13 de julho. O ex-ministro foi preso preso pela primeira vez em julho por ordem do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília. Dias depois, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) mandou soltá-lo. Em setembro, porém, após a descoberta dos R$ 51 milhões, Geddel foi preso novamente.
O ex-assessor contou também ter ido algumas vezes à sede da Odebrecht, em Salvador, para retirar dinheiro e foi informado que os valores eram doações de campanha. O deputado federal Lúcio Vieira Lima teria lhe dito que ele deveria procurar na empreiteira “sua xará”. No local trabalhava Maria Lúcia Tavares, funcionária do departamento de propina da empreiteira e primeira a delatar o esquema de pagamentos ilegais.
Outra informação de Job, segundo a revista, é que Geddel e Lúcio eram sócios ocultos na construtora Cosbat, a responsável pela obra do edifício La Vue, no porto da Barra, em Salvador. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero denunciou ter sido pressionado por Geddel a fazer com que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) liberasse a obra, que fica nas proximidades de uma área tombada na capital baiana. Foi a denúncia de Calero que levou Geddel a perder o cardo de ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer e, com ele, o foro privilegiado.
À revista Época, o advogado Marcelo Ferreira, que defende o ex-assessor, disse que, “apesar de figurar nos registros da Câmara dos Deputados como secretário parlamentar, na prática as atividades de Job se resumiam aos interesses pessoais dos parlamentares e familiares”. Ainda segundo o advogado, Job era “um verdadeiro empregado doméstico, refém das circunstâncias e obrigado a devolver a maior parte de seu salário, pago pelos cofres públicos”.
A defesa da família Vieira Lima afirmou que não comentaria o caso, por não ter tido acesso ao depoimento de Job. A defesa de Geddel argumentou que as buscas no apartamento com os R$ 51 milhões foram ilegais porque partiram de denúncia anônima.
A família de Geddel e Lúcio Vieira Lima afirmou que não comentaria o caso por não ter tido acesso aos depoimentos do ex-assessor.
Fonte: O Globo