Pego o gancho de Lula para entender o que aconteceu com o PT, ontem a esperança de um Brasil diferente e hoje o retrato de um Brasil que combatíamos. Quem mudou foi o PT ou as cúpulas?
O partido, assim como nós o construímos na fundação lá pelos anos 80, não existe mais, até pela necessidade de avançar paralelo à conjuntura.
Naquela época queríamos a volta da democracia plena e eleições diretas em todos os níveis. Eram outros tempos, era outra militância, pura e sem contato ainda com a máquina.
A ditadura caiu e o PT avançou para se consolidar politicamente conquistando os primeiros mandatos e a prefeitura de Fortaleza, considerado o primeiro grande desastre administrativo do jeito petista de governar.
Nos anos seguintes as conquistas de mandatos no legislativo e no executivo se multiplicaram, o partido cresceu muito, experimentou e colheu bons resultados com um jeito deferente de fazer as coisa e cuidar das pessoas. Daí veio o orçamento participativo como grande estrela.
DESVIO DE ROTA – Mas, quando fez grandes concessões à direita para Lula vencer a eleição o partido abriu de mais a guarda e perdeu-se no objetivo de ser o diferencial.
A partir da daí vieram os escândalos, o mensalão, a decadência de Zé Dirceu e o evolvimento do PT com as falcatruas, inicialmente para fazer caixa dois para as eleições seguintes e depois o enriquecimento ilícito de várias de suas lideranças.
A cúpula do partido foi para o presídio da Papuda, mas Lula elegeu Dilma como sucessora. Talvez aí resida o maior erro. Se o PSDB tivesse elegido o presidente a crise tinha afetado a gestão tucana e a comparação com os anos de p´prosperidade de Lula seria inevitável e fatalmente ele voltaria nos braços do povo.
Ao eleger Dilma, Lula comparou uma gestão petista exitosa com outra que vive as dificuldades da mudança de conjuntura internacional. E na comparação de PT versus PT o PT levou a pior.
Até chegarmos a agudização do processo de desgaste de um partido que se encontra no poder há 16 anos, o que significa que tem brasileiro que nunca viu outra gestão e quer mudar.
A BASE É DECENTE, A CÚPULA NÃO – O PT perdeu-se na sêde de poder e desvios de conduta dos seus líderes nacionais, mas na base o partido ainda sonha e é decente.
Então, o discurso de Lula quando diz que o PT perdeu a capacidade de sonhar não concatena-se com a realidade. A cúpula nacional guinou o PT para esse desgaste e deve ser considerada a única culpada pelo desvio de rota. A militância continua decente e com sua utopia de um Brasil mais justo e livre da corrupção.
Resumindo, a base do PT é inocente, mas a cúpula não, apesar de ter tirado milhões de brasileiros da miséria e ter promovido a maior distribuição de renda do mundo.
Não cabe mais nos dias de hoje a defesa da tese do “rouba, mas faz”. E só haverá um novo PT quando for feita a limpeza, o expurgo necessário.